Estatuária monumental de Mafra, uma escola
São muitas as coisas que nos podem levar ao Palácio Convento de Mafra. A mim da última vez levaram-me as 58 estátuas monumentais da Basílica
Está em Lisboa e quer uma tarde única e inesquecível? Mafra fica a meia hora de Lisboa, e é um edificado histórico que não tem par ao redor do mundo. Podíamos falar-lhe do carrilhão de sinos ou do conjunto impar de seis órgãos em uníssono debaixo do mesmo teto. Mas não, não falamos de tal, pedimos-lhe para vir, em qualquer dia e qualquer hora e apenas entrar na basílica. E venha sozinho se possível, a experiência correrá melhor.
São Mateus com o Evangelho, o asceta São Jarónimo e o Leão, e São Bartolomeu mártir, esfolado
Mafra nasceu da vontade de um rei e esteve sempre sob a tutela da coroa. Tanto assim que não é apenas um convento, é um palácio, e real palácio. Durante séculos foi uma escola de estilo, e todo o seu discurso era fonte de inspiração para o resto do país.
D. João V, o Rei Barroco
Viajando numa trip permitida pelo dinheiro que jorrava das colónias, D. João V quis ter em Mafra a sua própria Roma. E tudo fez para o conseguir: logo de início fez encomendar em Itália (no berço do grande barroco internacional), a mais significativa coleção neste estilo existente fora de Itália, num total de 58 estátuas, todas em mármore de Carrara, o mármore ainda como deve de ser.
São João, São Tomás, Santa Rita de Cássia e Santa Bárbara
Tudo é vento, ar, arrebatamento, mas ao mesmo tempo pathos, espírito e confronto. Barroco ideal. Tudo o que evoca a grande reviravolta geral e abrangente da primeira metade da centúria de Setecentos está na estatuária de Mafra. Para bem a exprimir, à maneira italiana, D. João V trouxe de Itália as melhores oficinas, as de Monaldi, Barcci ou Lironi, para adornar Mafra.
Santa Ana e São José
Na coleção visitável, na porta à esquerda da Basílica, podemos ver exemplares dos modelos em terracota das estátuas, enviados de Roma para aprovação real antes da execução final e definitiva das mesmas. Juro que dava um dedo para ter uma minha, na cristaleira.
Modelos em terracota de Santa Teresa, S. Sebastião e São Bruno, vindos de Itália para aprovação prévia de D. João V antes da execução definitiva
A segunda parte da história é a criação, já sob o reinado de D. José I, de uma escola assumida como tal. Até à data Mafra era fonte de inspiração natural e para se bem fazer barroco era preciso ir ver Mafra, com olhos de ver. Com D. José, em 1753 é criado o segundo núcleo da estatuária de Mafra, com produção da já nacional Escola de Escultura de Mafra.
Santa Isabel da Hungria e Santa Clara, duas das esculturas da fachada principal
Do trabalho resultado desta escola nasceram as esculturas, de alunos dirigidos pelo ‘importado’ Alessandro Giusti, que ocupam as telas do altares e as lunetas da Basílica, de arrojo artístico que não se intimida com as importadas de Itália.
Mafra fica a meia hora de Lisboa e a 300 anos de distância. Faça como lhe disse no inicio do artigo, vá sozinho ou sozinha, qualquer conversa ou companhia é uma interferência.
Para saber mais sobre esta e outras histórias, aceda por favor a http://www.palaciomafra.gov.pt
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