As máscaras mexicanas, todas, no Museu da Cidade
É mais uma iniciativa da Lisboa Capital Ibero-americana. Desta vez o México no Palácio Pimenta. É de cair
O Pimenta se soubesse passava-se! Manuel Joaquim Pimenta foi um dos donos deste palacete soberbo, hoje Museu de Lisboa, ao Campo Grande. E foi o menos célebre de todos os donos, um simples burguês a quem o Conde de Forrobo (festivaleiro que originou a expressão portuguesa forrobodó, pândega) o cedeu como pagamento de uma dívida em meados do século XIX. O Pimenta burguês iria odiar, mas o Conde, tenho a certeza de que acharia muita graça.
As mais de 250 máscaras, assustadoras, perversas, belas, sensuais, telúricas do quotidiano e do artístico mexicano assim o ditariam. No México as máscaras são um ícone crescentemente visível, ou melhor, que a nação nunca perdeu; nós europeus sim, perdemos, há muito, perdemos muita coisa.
São usadas permanentemente nos ritos religiosos, nos protestos públicos e na Lucha Libre, o sucedâneo do Sul do wrestling americano.
No México o uso quotidiano da máscara atravessa séculos, eram já desde há muito usadas antes da invasão espanhola, e desde aí o seu uso perdurou, no protesto contra o colonialismo ou festejando a independência, em tantos contextos e por todo o país. Muitas máscaras são resultado dos confrontos entre culturas indígenas, europeias ou africanas, outras são personificações de mouros, cristãos, apaches, astecas e espanhóis.
Há mascaras de carnaval, claro! e do dia de los muertos, de tigres, de sereias, de diabos e de serpentes, de crocodilos e de morcegos, tudo o que amedronta e fascina uma nação.
Uma boa parte da mostra é constituída pelas máscaras da nossa foto de abertura, as de Lucha Libre, a versão mexicana do wrestling em que os todos os lutadores mascaram a cara. É um fenómeno sociológico interessantíssimo, que vem já do inicio da década de 1930 - bem anterior, como movimento de massas, à versão tão mais simplista americana.
O Palácio Pimenta vale por si a visita, não só pela historieta do Pimenta e do Conde, mas porque é um edifício perfeito na sua tipologia, um palacete de lazer do século XVIII, diz-se, mandado construir pelo rei D. João V para acolher uma sua amante favorita, a Madre Paula, freira do Mosteiro de Odivelas – afinal, o Campo Grande fica bem mais perto do Paço, e na altura não havia metro.
Não é certo, mas diz-se que a traça do Palácio é de Ludovice ou de Carlos Mardel, os dois arquitetos favoritos aos olhos da Coroa apaixonada. E é tão lindo e correto edifício que nos parece que sim, que é.
Exposição “Do Carnaval à Luta Livre. Máscaras e Devoções Mexicanas”
Até 1 de outubro, das 10h00 às 18h00
Museu de Lisboa - Palácio Pimenta, Campo Grande, 245
1700-091 Lisboa
Bilhete: 3 euros
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