Mezze em Lisboa: somos todos de cá
É um restaurante que prova que a Humanidade ainda tem futuro; no Mezze só trabalham refugiados e o nosso palato agradece
Mezze quer dizer em árabe “prato para partilhar”. E é profundamente de partilha de que é feito este projeto. Começou por ser uma campanha da Associação Pão a Pão, como um crowfunding, para dar trabalho e estabilidade a um grupo de 10 refugiados maioritariamente sírios. Começaram por nos pedir 15.000 euros, que ainda dentro do prazo foram cobertos. Subiram a fasquia para os 20.000, e em maio tinham angariados €23.025, 115% acima do pedido. E valeu bem a pena.
O Mezze está sempre cheio, tem filas à porta, e devolveu a vida a pessoas como nós, que ninguém hoje em dia está livre de ficar sem nada, sem país até, de um momento para o outro.
É um restaurante em Arroios, onde os refugiados nos cozinham uma verdadeira comida tradicional do norte de África, pela simples razão que a cozinhariam sempre, é a comida deles. E este é o mais belo tracejado deste artigo, enquanto o fazem, estes refugiados mantêm a alma no seu país de origem, e a dor não é tão grande.
Os nomes são arrevesados mas deliciosos, e todos são de partilha, de família. E sempre com o pão árabe como prato e base de partida, como lá. E sobre ele yalanji, fattoush, kibbeh, hummus ou baklava, tudo nomes de literatura, de filme, de national geographic, e tudo tão bom.
O promotor da ideia foi a Associação sem fins lucrativos Pão a Pão, criada por três portugueses e uma estudante universitária síria. Todos os elementos são díspares entre si nos seus campos profissionais, mas são todos unidos numa causa comum, que deveria ser de todos afinal, a integração de refugiados.
Toda a gente que conheço e que já lá foi aconselha a mesma coisa, vá o mais cedo possível, não há reservas. Há quase sempre fila, quando se chega escreve-se o nome numa lista e espera-se. Espera-se pouco se chegar cedo, espera mais se chegar tarde, é simples, é como a comida caseira.
Há esplanada e mesas interiores, e aqui há uma longa mesa corrida e central, para partilhar a comida e a conversa. O espaço é simples e de agora, e uma parede tem garrafas de vinho para consumo na casa, esqueça lá o Corão e a parvoíce de proibir vinho e alegria. Para quem é alegre por natureza, há sumo de tamarindo.
Os menus, a partir de 11 euros, são compostos por 4 pratos à escolha sempre acompanhados por pão árabe. Existe também uma carta extra menu.
Restaurante Mezze
Mercado de Arroios, 12h30 às 15h00 e 19h00 às 24h00
Créditos fotos: ppl.com.pt
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