Juliana Cavalcanti, o génio criativo da loja Hay Carmo
Os amantes de moda e de peças únicas não podem deixar de passar pela Hay Carmo
Fomos conhecer a loja Hay Carmo, que abriu em Julho, e falámos com Juliana Cavalcanti, sócia e curadora do espaço.
Quando é que a loja Hay Carmo abriu?
Abriu em Julho, ainda é um bebé [risos]. Ainda estamos a aprender muito e a contornar os obstáculos que vão surgindo. O feedback é incrível. Enche-me o coração sempre que vejo pessoas a entrar na loja e a dizer que gostam, acham o espaço lindo e elogiam o conceito… Mas a localização é um desafio. A zona é óptima, mas como não tem janela para a rua não é fácil de ver. Quem conhece é facílimo e óptimo, porque mais central é impossível. Mas tem que se dar a conhecer, por isso é que fazemos muitos trabalhos em comunicação. Temos redes sociais super atuais, fazemos conteúdos próprios. Eu coordeno as sessões fotográficas, misturamos conteúdos das marcas e outros nossos. Eu tento produzir uma vez por mês, com o apoio das nossas colaboradoras que também são óptimas na comunicação e no design gráfico. A loja depende disso.
Vocês têm muitas marcas que é difícil encontrar em Lisboa ou que não se encontram em mais lado nenhum, certo?
Exato e essa é a ideia. As marcas independentes precisam de um espaço físico e nós precisamos delas também, porque é o que alimenta a loja. Ainda temos alguma dificuldade com a questão de serem só marcas portuguesas. Porque ainda não existem assim tantas. Só temos uma ou duas marcas que não são portuguesas. Uma brasileira e outra da Colômbia. Na verdade são estrangeiros que vivem agora em Portugal e que trouxeram as marcas, mas a produção ainda é feita nos países de origem. Eu tento fazer uma mistura, a maioria é portuguesa, mas agora também quero ir buscar marcas internacionais.
Em Portugal temos marcas maravilhosas, mas muito mais focadas em acessórios, sapatos… Há poucas marcas de roupa. Ou poucas com a qualidade e o profissionalismo que eu exijo para a loja. O meu background é só moda, então tenho um olho muito exigente. Cada marca aqui tem o seu próprio espaço, o seu charriot, então tento que este seja harmonioso. O objetivo é que as marcas tenham um espaço próprio, sendo que a loja é a casa das marcas.
E os clientes são mais portugueses ou mais estrangeiros?
No Verão tivemos muitos estrangeiros. Os estrangeiros gostam muito de estar num país novo e de encontrar produtos que não vão encontrar no seu país. Em vez de irem a uma Zara ou a uma marca de luxo, que encontram em qualquer sítio, vêm cá. Agora é uma nova estação e estamos a fazer uma comunicação mais focada para o público português, porque realmente é quem está cá e é o nosso público. É importante focar no público local, apesar de achar ainda que o português tem algum preconceito em relação às marcas nacionais.
O mercado nacional gosta muito do que vem de fora, não valorizam muito o que é daqui. Isso começa a mudar agora, aos poucos, com a nova geração, que tem a cabeça mais aberta e procura marcas locais. Vê-se muito isso no fenómeno de marcas de swimwear. Começou muito por estas marcas, e agora outras vão atrás disso. Cabe à marca fazer um bom trabalho para atingir o mercado.
É uma das dificuldades que as marcas independentes têm, não têm estrutura para ter uma loja física.O espaço físico é importante, porque as pessoas gostam de tocar e de experimentar. Especialmente num mercado como Portugal. Só online é muito difícil. Eu vejo quando abri a minha marca (JUU), durante um ano só foi comercializada online e foi difícil. Ou se tem um investimento brutal para se fazer um marketing digital bem feito, ou então é para esquecer. Os clientes pediam-me para ver as peças. É preciso sempre um espaço físico.
Como é que começou o percurso de Juliana na área da moda?
Começou há muito tempo atrás. Faz quinze anos que tive o meu primeiro trabalho na área. Licenciei-me na Fashion Business School, e trabalhei em São Paulo cinco anos. Trabalhei com o grupo de luxo NK Store, que vendia Yves Saint Laurent, Chanel, entre outras. Até hoje existe, é a minha marca favorita em São Paulo. Mas sempre quis morar na Europa, então vim para cá. Vim trabalhar para Portugal, com uma amiga minha no showroom dela, Wholesale. Trabalhei três anos com a Wholesale, mas sempre fui mais focada na comunicação e PR. Depois fui para Londres, também trabalhar com a Wholesale. Voltei para Portugal, para trabalhar com a XN Brand Dynamics, que era na altura um PR Office de moda e lifestyle. Fiquei lá dois anos e fazia a comunicação de todas as marcas de moda. Foi uma experiência incrível e foi também quando conheci muita gente em Portugal. Entretanto saí de lá porque sou muito ambiciosa, adoro trabalhar e queria mais. Decidi tornar-me independente.
Até hoje, desde há seis anos, que sou independente. E vou fazendo muita coisa. Trabalho muito com comunicação, como PR, mas também trabalho com design e com criação de conteúdos. Criei uma agência, agora no início do ano. E depois tenho a loja, um projeto que apareceu através do Eduardo, que é um cliente, e que eu acabei por ficar sócia, mas em que também sou coordenadora de tudo. Ele é engenheiro e deu-me carta-branca para criar aqui. São muitos projetos, mas eu gosto. Até sinto a falta quando tenho um dia sem nada para fazer. Há semanas que são uma loucura. Mas tento balancear. Não tenho a segurança de ter o conforto de um contrato, mas tenho vários projetos que me permitem fazer coisas diferentes e conhecer pessoas novas, e tenho liberdade.
Por que é que a Juliana escolheu viver em Portugal?
Foi meio acidental. Mas apaixonei-me loucamente e nunca mais quis ir embora. Estava para ir para Itália, para fazer uma pós-graduação em Milão, em Marketing de Moda. Antes de ir para lá, vim visitar uma amiga minha em Portugal, que tinha o tal showroom. Entretanto ia para Itália e ia tirar o passaporte italiano. Ia ficar duas semanas em Portugal. Mas depois houve um atraso com os documentos e eu fui ficando. E nisso chegou o Verão e quando tudo ficou pronto não quis ir embora. Isso foi há dez anos e não penso sair daqui. Por duas vezes tentei ir embora, pela questão profissional, mas senti tanto a falta de Portugal que tive de voltar. Aqui sinto-me parte de alguma coisa. A qualidade de vida que tenho aqui, o quão feliz sou e o clima não têm comparação. Antigamente as pessoas não percebiam o porquê de ter escolhido Portugal, mas agora está toda a gente aqui, ou para morar ou para visitar.
Eu sei que é difícil definir, mas como é que a Juliana explicaria este fascínio à volta de Lisboa?
Eu acho que tem uma energia. Primeiro, eu acho que hoje o mundo é tão turbulento, há tanto ódio, estão sempre coisas más a acontecer, e Portugal é um lugar que inspira paz, inspira qualidade de vida. A luz, a calma, a beleza da cidade… Tem uma cor que alimenta a alma. É um país que tem vistas incríveis. Aqui em Lisboa temos o rio, depois a magnitude do mar. Quando se quer pode-se ir respirar o ar da praia. É muito único ter isso numa cidade. E não é uma cidade de férias, também se tem trabalhos, sítios para ir. É uma mistura muito completa. Tenciono ficar aqui, nem imagino outra coisa. A única coisa que faltava em Portugal era o mundo, que agora tem, com as pessoas de fora que vieram completar o país.
O que é que as pessoas podem encontrar na Hay Carmo que não encontram em mais nenhum endereço da capital?
Marcas giras, com qualidade, com um bom branding. Marcas que não vão facilmente encontrar em lojas físicas. Eu gosto muito do tema da sustentabilidade na moda. Aqui as marcas são todas slow fashion. Não há regras de entrada de coleção, criam quando querem criar. Não há desperdício. São marcas que procuram produções locais, pequenas. Para mim o slow fashion é o futuro. Quando se compra uma marca ou produto é bom saber que a marca tem bons propósitos, que tem essa preocupação. Que não prejudica os trabalhadores ou cria imenso lixo. Estou envolvida em projetos nessa área, para criar consciência. Se a loja pudesse ser toda sustentável, era óptimo.
A Juliana também tem aqui a sua própria marca, não é?
Sim, a JUU, uma marca que eu criei há um ano, que tem só one pieces. São apenas macacões e vestidos, para se estar toda vestida com uma peça só. É para ser simples, minimalista, mas com um toque elegante. Está a correr muito bem aqui na loja, os estrangeiros vêm e experimentam.
Hay Carmo
Endereço: Tv. Carmo 1C, 1200-049 Lisboa
Horário: 11h00 às 21h00
Telefone: (+351) 21 346 0514
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