Prémios Valmor, habitar o belo
Quase que se pode dizer que o Prémio Valmor foi criado há 100 anos a pensar no turista arquiteto da atualidade
Este é um breve roteiro que se faz num dia para conhecer os Prémios Valmor, o melhor da arquitetura lisboeta, a de agora e a de há um século, com todos os edifícios que se destacaram nestes mais de 100 anos.
Como muitas histórias bonitas, esta começa com um homem benemérito e altruísta, amante das belas artes: o último Visconde de Valmor, Fausto Queiroz Guedes, foi diplomata, político, membro do Partido Progressista, par do reino e governador civil de Lisboa. Depois de falecido em França, em 1878, soube-se que tinha deixado testamentada uma determinada quantia de dinheiro a ser doada à cidade, sob a forma de um fundo que gerasse um prémio a ser distribuído em partes iguais entre o proprietário e o arquiteto autor da mais bela casa ou prédio edificado, ano a ano.
A partir de 1902, e até hoje, (verdade seja dita com mais regularidade no passado que atualmente), a Câmara Municipal foi assim premiando o que de melhor se fazia em cada ano em termos de arquitetura urbana. E aqui podemos levantar as sobrancelhas quando olhamos para algumas das escolhas que foram feitas; não esqueçamos que os homens do júri que elegeu o “Franjinhas” (nº8 nas fotos abaixo) tinham patilhas felpudas até aos cantos da boca e usavam calças à boca-de-sino, ou que os seus congéneres da década de 80, que preferiram as Torres da Amoreiras, usavam blazers cintados com ombros mais largos que as portas. Até nisto os Prémios Valmor são uma instituição preciosa na análise e no estudo da evolução do gosto e da arquitetura.
O Prémio Valmor não é sinónimo de qualquer tipo de garantia legal contra o tempo, a incúria ou a ganância; são vários os exemplos de edifícios premiados agora adulterados ou arruinados. É também por aqui que se pode medir o espírito de cidadania dos habitantes e, nesta fotografia, os lisboetas não ficam sempre bem.
Das mais de 100 possíveis, entre Prémios e Menções Honrosas, estas são as nossas escolhas, para lhe aguçar a curiosidade:
1. Palácio Lima Mayer premiado em 1902, pelo arquiteto Nicola Bigaglia, italiano radicado em Portugal, esquina da Av. da Liberdade com a Rua do Salitre.
2. Casa Malhoa, prémio de 1905, arquitetura de Manuel Norte Júnior, na Av. 5 de Outubro, 6-8. A grande janela em vidro, que iluminava o atelier do pintor, é a imagem de abertura deste artigo.
3. Prémio de 1908, pela primeira vez atribuído a um edifício de rendimento. Projeto de Arnaldo Adães Bermudes, na Av. Almirante Reis na esquina com o Largo do Intendente. Hoje em dia, depois de recuperado com esmero e respeito, é o Hotel 1908.
4. Prémio Valmor de 1911, no nº 25 da Rua Alexandre Herculano. Da pena de Miguel Ventura Terra, é uma clara inspiração parisiense à época.
5. A Villa Sousa, prémio de 1912 do arquiteto Manuel Norte Júnior que no mesmo ano conquistou uma Menção Honrosa. Fica na Alameda das Linhas de Torres, nº22 e é hoje uma adiantada ruína.
6. Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, prémio de 1938, no cruzamento das avenidas Marquês de Tomar e de Berna. Do arquiteto Porfírio Pardal Monteiro, foi o primeiro Valmor a contemplar um edifício não habitacional.
7. Prémio de 1940, o edifício do jornal Diário de Notícias no nº 266 da Av. da Liberdade, do arquiteto Porfírio Pardal Monteiro e que no hall exibe 3 murais de Almada Negreiros. Até este ano de 2017 foi sempre a sede do jornal que agora passou para a periferia, e dará lugar a um empreendimento habitacional de luxo.
8. O “Franjinhas” de 1971, dos arquitetos Nuno Teotónio Pereira e João Braula Reis, contestadíssimo à época, no nº 9 da Rua Braancamp.
9. Sede, jardins e museu da Fundação Calouste Gulbenkian, prémio de 1975 da pena dos arquitetos Ruy Jervis Athouguia, Alberto Pessoa, Pedro Cid, Gonçalo Ribeiro Teles e António Barreto.É um dos melhor exemplos portugueses de arquitetura brutalista, e foi o primeiro Valmor atribuído a um conjunto que incluía, para além do edificado, toda a envolvente paisagística.
10. Menção Honrosa de 1985, o Instituto Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial, na Estrada do Lumiar, dos arquitetos José Mantero e João Mota Guedes.
11. Complexo das Amoreiras, prémio de 1993, do arquiteto Tomás Taveira, o mais carismático projeto pós-modernista português.
12. O Pavilhão de Portugal, construído propositadamente para a Expo 1998, pelo arquiteto Álvaro Siza Vieira. A Expo98 foi largo palco da criatividade dos arquitetos mais relevantes do país e internacionais, que se viu recompensada no mesmo espaço e no mesmo ano com mais um prémio atribuído a Carrilho da Graça, com o Pavilhão do Conhecimento, e duas Menções Honrosas: o Oceanário pelo arquiteto Peter Chermayeff e o Pavilhão Multiusos, hoje Altice Arena, dos arquitetos Regino Cruz e Nicholas Jacobs.
13. Menção Honrosa de 2003 para uma Reconversão de um Quarteirão no Chiado, do arquiteto Gonçalo Sousa Byrne.
14. Menção Honrosa em 2011 para a Fundação Champalimaud, na Av. de Brasília, do arquiteto Charles Correa.
Fotos do site da Câmara Municipal de Lisboa
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