Cães de cá
Hoje trazemos-lhe Cães de Qualidade Produzidos em Região Determinada, uma espécie de V.Q.P.R.D. canina
Uma raça não surge espontaneamente na natureza, é sempre resultado de cruzamentos intencionais por parte dos criadores. Se o resultado pretendido for um pequeno cão de companhia, o criador fará acasalar os cães mais pequenos de que dispuser, e o mesmo fará em relação em relação a qualquer característica que pretenda desenvolvida.
Porque somos desde há milénios um pequeno pais de pastores, as raças portuguesas autóctones são praticamente todas viradas para a guarda e a condução de rebanhos; os pastores foram aqui agindo, naturalmente, como criadores desenvolvendo nos cães as características que mais procuravam para a ajuda no seu trabalho.
Retrato oficial de Bo, um dos dois Cães d’Água Portugueses da família Obama, no relvado da Casa Branca em Washington
A raça portuguesa mais famosa, pelo menos desde quando o ex-presidente Obama quis oferecer um cão às filhas, é o Cão d’Água Português. É um dos raros casos de raça desenvolvida não para pastorear mas sim para ajudar o homem na pesca. Pensa-se, sem certeza alguma, que originalmente seria um cão pastor da Ásia Central, trazido para a Península pelos bárbaros. O primeiro registo escrito sobre a sua presença em Portugal é de 1297, onde um monge o descreve com “pêlo comprido e preto, tosquiado até à primeira costela, e com um tufo na ponta da cauda”, o aspecto com que ainda hoje em dia muitos donos o apresentam. Durante séculos ajudaram os pescadores de quase toda a costa nacional, saltando do barco para a água para ferrar o peixe quando este fugia da linha.
Raça Serra da Estrela, foto de Manuela Paraíso
Se perguntarmos a qualquer pessoa qual pensa ser a raça de cão mais portuguesa, a resposta é seguramente “o Serra da Estrela”. A sua origem perde-se nos tempos e foi com certeza companhia dos guerrilheiros de Viriato que fizeram a vida negra aos romanos. Verdadeiramente autóctone, a sua região é toda a Serra da Estrela, das suas bases até aos cumes, onde acompanhava e acompanha os pastores que durante o verão levam os rebanhos ao topo onde vicejam as pastagens. Não é um cão de pequeno apartamento; do tipo mastim, rústico e entroncado, precisa de espaço e ar fresco que justifique a grossa pelagem. É excelente como cão de guarda, bravo para desconhecidos e dócil para os donos. Apesar da corpulência, come pouquíssimo, devido ao lento metabolismo típico da raça. Pela mesma razão, é um doce pachorrento, companhia ideal de sofá e filme.
Da esquerda para a direita: Castro Laboreiro, Cão de Fila de São Miguel e Serra de Aires
Para além destas duas existem outras seis raças caninas portuguesas reconhecidas pelo Clube Português de Canicultura: o Serra de Aires, o de Fila de São Miguel, o Castro Laboreiro, o Rafeiro Alentejano e os Podengo e Perdigueiro Portugueses.
Da esquerda para a direita: Rafeiro Alentejano, Podengo Português e Perdigueiro Português
Muito muito importante: perceber-se-á perfeitamente se o leitor se apaixonar por uma destas nossas raças nacionais e desejar ter um destes espécimes em casa. Mas se não fizer questão no pedigree, não se esqueça de que pode sempre adotar e salvar da miséria um cão que não pediu para ser abandonado. Nestas coisas, como em tudo, o que importa é o que está lá dentro, não o pelo que veste o bicho. Com sorte, pode encontrar num canil municipal ou numa associação zoófila um cão tão parecido como aquele da revista, mas a custo zero e com esterilização e chip oferecidos.
E terá um amigo reconhecido para a vida, mais que provavelmente o único verdadeiro e incondicional amigo que qualquer um de nós pode ter.
Crédito foto abertura: Escultura de Cão Castro Laboreiro, por Luís Valadares, edição da Imprensa Nacional Casa da Moeda
Crédito foto do Cão d’Água: Chuck Kennedy
Crédito restantes fotos: Pinterest
Crédito foto cão Serra da Estrela com rebanho: Manuela Paraíso (www.pontadapinta.com)
Artigos Relacionados
- Populares Recentes