Tomar: No Rasto da Devoção
No Convento de Cristo podemos ver uma exposição que, mais do que Santos, nos dá a conhecer a devoção de quem os esculpiu
A exposição “No Rasto da Devoção. Escultura em Pedra no Convento de Cristo. Séculos XIV-XVI”, a decorrer até 27 de julho, é resultado de uma parceria entre o Convento de Cristo em Tomar e o Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património da Universidade de Coimbra.
Algumas das esculturas pertencem às reservas no Convento de Cristo, outras provêm do Museu Nacional de Arte Antiga, do Museu Nacional Machado de Castro, do Museu de Aveiro, do da Figueira da Foz, do Museu Diocesano e das Paróquias de Tomar. São no seu cerne características da produção local, do triângulo definido entre a Batalha, Coimbra e Tomar. Como o nome indica, a mostra vai além de simples escaparate de estatuária: “É sobretudo uma proposta de interpretação e (des)construção onde, em definitivo, os públicos têm acesso a outras tantas posições sobre a matéria exposta e sobre si mesmos”, adianta Maria de Lurdes Craveiro, comissária científica da mostra.
O fio condutor da exposição “No Rasto da Devoção. Escultura em Pedra no Convento de Cristo. Séculos XIV-XVI” nasce assim para, mais que dar a conhecer estas 37 esculturas, analisar e perceber o que levou os fiéis a encomendar a sua feitura, e até que ponto esta cumpriu o seu desígnio, espelhando a religiosidade característica da época. “Mais do que selecionar a qualidade (das obras expostas), optou-se pela captação de uma paisagem devocional que integra a imagem que, por seu turno, gera, acrescenta e estimula a proximidade táctil aos mistérios do Cristianismo”, continua a comissária.
O período que decorre nestes cerca de trezentos anos expostos foi profícuo em toda a arte de carácter religioso, não apenas por vontade oficial da Igreja, mas especialmente pela devoção dos fiéis, que nesta estatuária buscavam uma espécie de materialização do Divino para ‘uso próprio’.
A mostra decorre nas Salas do Noviciado, no primeiro piso, sendo uma delas, a Capela do Noviciado ou Dos Reis Magos, uma das obras-primas renascentistas portuguesas. O edifício do Convento de Cristo é aliás, todo ele como um todo, uma obra incontornável no panorama arquitectónico e histórico nacional: a sua construção remonta ao século XII para albergar a Ordem dos Templários, e é frequente haver na literatura mundial referências ao edifício e ao espírito que o fez nascer, especialmente na obra de Umberto Eco.
Como diz a diretora do Convento de Cristo, na abertura do catálogo desta exposição, rumar a Tomar é imperdível para “conhecer o Convento de Cristo e a vasta ‘região de pedra’ onde se insere, imponentemente testemunhada pelo edificado patrimonial e pelos seus Monumentos Património da Humanidade, como na imensa e riquíssima plêiade de trabalho escultórico, presente na construção do espaço arquitectónico, nos inúmeros elementos escultóricos e decorativos, estruturais e compositivos que contracenam e o integram.”
“Portais, portas, janelas e lógias, abóbodas, chaves, colunas e capitéis, frisos, tímpanos, arquivoltas e entablamentos, gárgulas e fontes, são apenas alguns dos inúmeros elementos desta sinfonia pétrea de enorme abundância iconográfica, simbólica e comunicativa que em cada espaço, e em cada momento, nos surpreendem e encantam aqui, no Convento de Cristo, testemunho indelével da força e pujança produtiva dos ofícios da pedra.”
Exposição “No Rasto da Devoção. Escultura em Pedra no Convento de Cristo. Séculos XIV-XVI”
Convento de Cristo
Tomar
Até 27 de julho
Mais info aqui
Imagens cedidas pela organização
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