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Eurostars Museum, um foyer com 8000 anos de história

Eurostars Museum
Por JoÁ£o GALVÁƑO hÁ¡ 7 anos
Categorias :
Hotelaria

Construir um hotel num palimpsesto histórico como Lisboa deu aos Hotéis Eurostars direito a uma decoração inesperada e irrepetível

 

Sabe o que é um palimpsesto? Mesmo que saiba eu conto na mesma: antes da existência do papel como material de escrita, vulgar e abundante, as superfícies para escrever eram raras, caras e preciosas. Por isso, todas as folhas (pergaminhos, neste caso), eram reusadas, raspando o texto velho e reescrevendo de novo na mesma superfície, e não raro repetindo este processo várias vezes. A esta superfície de escrita reutilizada chama-se palimpsesto.

 

Se há cidade no mundo que ao nível arqueológico é um palimpsesto de civilizações e culturas é Lisboa. E quanto mais junto ao rio e perto da Baixa, mais camadas tem o palimpsesto da cidade. Que o digam os lisboetas, quando a Câmara faz obras de fundo que impliquem o levantamento de chão: são mais as vezes em que se encontra a parte de um cais medieval, um cemitério improvisado de que se não tinha conhecimento ou partes de quotidiano romano ou mouro. E as obras na rua que demorariam dois meses passam para dez, porque a História é para respeitar e tratar o melhor possível.

Foi o que aconteceu com o mais recente hotel da cadeia Eurostars em Lisboa. O sítio era já histórico e sabia-se que o número 40 da Rua Cais de Santarém, junto ao Campo das Cebolas, entre o novo cais de paquetes e a Praça do Comércio, tinha sido no século XVI o Palácio Coculim, arruinado quase que completamente pelo terramoto de 1755.

Durante a obra, o palimpsesto foi-se desdobrando e os achados arqueológicos multiplicando: a marca histórica mais antiga, que faz o tempo recuar até ao século VII a.C. é uma estela fenícia, a manifestação mais antiga de escrita desta cultura encontrada na Europa Ocidental. Mais que a raridade do achado em si, este fará quase com que se reescreva esta parte da história de Lisboa; até agora pensava-se que aqui os fenícios vinham apenas fazer comércio, e esta placa votiva faz-nos pensar que terá havido uma certa aculturação da região.

Esta estela faz parte do layout do Eurostars que assim se passou muito acertadamente a designar Museum, e é apenas parte do acervo encontrado e exposto. Há um mosaico romano (um dos únicos dois da cidade e o único a cores), as ruinas de uma casa da mesma época e vestígios da presença islâmica. 

O que restou do tal Palácio Coculim do século XVI foi também integrado no edificado: no desenho do restaurante está parte de uma parede e um arco que o terramoto de 1755 poupou.

Fosse a estela fosse o mosaico, tudo aquilo que a História ofereceu ao Eurostars o Eurostars bem aproveitou, como uma taberna do século XIX que agora toma o lugar da garrafeira.

Todo este espólio está visível, faz parte da decoração e é visitável. Afinal, quem no seu juízo perfeito trocaria estes achados únicos por novo design italiano, por muito bom que este seja?

 

Hotel Eurostars Museum 5*

Rua Cais de Santarém, 40

Lisboa

149 euros quarto/noite

 

Mais info aqui

 

 

Fotos do site do hotel