“Incisão no tempoâ€: Júlio Pomar no Museu do Côa
O Museu do Côa traz até 5 de agosto uma mostra de Júlio Pomar em que o artista se enlaça naquela arte rupestre com 20.000 anos de idade
Antiguidade na arte é só um carimbo temporal. As pessoas de há 20.000 anos são as mesmas de agora; podem mudar os meios e as contingências, mas as pessoas são as mesmas. E os artistas também: podemos argumentar que as razões que levavam os habitantes do Côa de há vinte milénios atrás a gravar as rochas seriam mais profundas ou de cariz sagrado. E então? Não serão as mesmas razões que hoje em dia põem um artista, de paleta e pincel, frente a uma tela?
A Fundação Museu do Côa, dos arquitetos Pedro Tiago Pimentel e Camilo Rebelo
O Museu do Côa apresenta até dia 5 de agosto a exposição “Incisão no Tempo”, com obras do acervo do Atelier-Museu Júlio Pomar. Numa entrevista dada a Sara Antónia Matos e Pedro Faro em 2014, os mesmos curadores desta exposição no Museu Fundação Côa Parque, o mestre avançava que já “antes do Côa, eu tive a hipótese de estar em Altamira e em Lascaux, quando ainda se podiam visitar esses sítios. Para ser franco, não estava a apostar muito no que ia ver e, de repente, tive um choque. Pensei que me ia deparar com “registos do tempo”, de fraco impacto. Claro que as “marcas” têm sempre um lado de passado, mas o que aconteceu foi que a dada altura me senti completamente ultrapassado. (...). Mas ali, houve e há qualquer coisa que ultrapassa a nossa temporalidade, uma espécie de inscrição de um arquétipo, que está para além das épocas e que, por isso, torna a coisa sempre actual. Deslumbrou-me a extraordinária contemporaneidade do gesto que levou a inserir na rocha, o traço, o volume, a cor.”
À esquerda uma das obras expostas de Júlio Pomar e à direita uma das gravuras rupesyres do Côa
Desta forma, a exposição que decorre agora integra um núcleo de gravura de Júlio Pomar permitindo estabelecer uma relação com as gravuras do Côa e, de certa forma, fazer jus à afirmação de que o artista pode ser entendido como «a contemporaneidade» das gravuras dos antepassados do Vale do Côa.
Nos diferentes núcleos de obras de Júlio Pomar aqui presentes percebemos que a forma detém um «poder alquímico» entre o ser e o parecer, como o teriam querido os habitantes do Côa há tantos milénios atrás: desenhar o que se quer para se obter, no final da conjura.
Este é o primeiro evento do Museu em 2018 que assinala a abertura das comemorações do vigésimo aniversário da classificação da Arte do Côa como Património da Humanidade pela UNESCO.
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Imagens do site do Museu
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