Palácio Nacional da Ajuda: obra acabada ao fim de mais de 250 anos
Foi construído inicialmente em madeira porque também os reis têm medo de terramotos. Esta versão atual, mais sólida, nunca foi finalizada. Até agora.
Depois do gigantesco terramoto de 1755 o rei D. José mandou construir a nova residência real no alto da colina da Ajuda: não só porque o sumptuoso Paço da Ribeira tinha ficado arruinado, mas também para se salvaguardar, a si e aos seus, de eventual nova gigantesca onda como a que tinha arrasado a Baixa de Lisboa, consecutiva ao cataclismo.
Também a prevenir novo terramoto, fez construir o novo Palácio em madeira, que reage de forma mais segura a abanões sísmicos. O povo, sempre pronto a troçar da coroa que o esmifrava, logo lhe chamou Paço de Madeira, e os mais espirituosos, a Real Barraca. Esta não durou muito tempo: a madeira pode ser melhor a resistir a sismos, mas é péssima frente a fogos, como o que a consumiu em 1794.
O Palácio da Ajuda à época do neo-clássico, construído entre hortas e quintais porque um certo rei teve medo de novo tsunami.
O novo palácio começou a ser construído ainda em estilo barroco, severo por fora e delirante por dentro, com desenho de Manuel Caetano de Sousa, Arquiteto das Obras Públicas da Coroa. Mas o barroco via nessa altura os seus últimos dias e cinco anos apenas passados dois arquitetos formados em Itália, Francisco Xavier Fabri e José da Costa e Silva, foram encarregues de o adaptar ao novo gosto neoclássico que grassava por toda a Europa.
O Palácio Nacional da Ajuda nunca foi terminado, é fácil ver isso ainda hoje, quando se entra no pátio central e aquela fachada em frente parece um cenário de opereta, com janelas e varandins que não acessam a coisa alguma.
Fosse a fuga apressada da corte para o Brasil, fosse a permanente falta de dinheiro, a obra acabou ali, naquela parede sem sentido virada para a Calçada da Ajuda. Até agora.
Imagem do Palácio Nacional da Ajuda quando finalizado, visto do lado sul. Na abertura, imgem do pátio central, onde a nova obra quase não perturbará o antigo edificado.
Não é um capricho, a obra não tinha que ser, na realidade, finalizada; a Ajuda, para todos os lisboetas, era assim e não precisava de mais nada. Mas era necessário dotar o Palácio de um espaço que recebesse condignamente o Tesouro Real e a sua respetiva Exposição Permanente.
Com esta nova obra, será fechada a Ala Poente, a tal que parou numa parede de cenário, com uma implantação que vai respeitar os limites do edificado atual. A nova fachada Poente, com desenho e expressão contemporâneos, procurará restituir a unidade à leitura do conjunto, mas sem pastiches nem tentativas de recriação histórica: é utilizada uma composição formal, com referência aos alçados pré-existentes, onde se enfatizam as linhas verticais e horizontais, acentuando a marcação da leitura dos estágios das fachadas já existentes, que se materializam em diferentes planos das novas lâminas verticais de sombreamento dos planos envidraçados.
A nova fachada vista pelo lado norte, com os novos torreões ecoando os antigos, virados para a parada.
Serão ainda construídos dois corpos laterais mais elevados, inspirados nos torreões Norte e Sul da fachada Este, essenciais para o equilíbrio do conjunto.
Nesta nova Ala do Palácio será instalada a exposição permanente do valioso Tesouro Real, que inclui as Joias da Coroa e do Tesouro de Ourivesaria. O prazo estimado para a conclusão do projeto é o primeiro semestre de 2020.
Tanto o remate da fachada do Palácio Nacional da Ajuda como o Cofre visitável da Joias da Coroa são projetos do Arquiteto João Carlos dos Santos, subdiretor-geral do Património Cultural.
O átrio da nova construção, com a Caixa-forte que guardará as Joias da Coroa.
Mais info sobre o Palácio Nacional da Ajuda aqui.
Imagens cedidas pela instituição.
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