As mulheres de Almada Negreiros a banhos, em Tavira
Quase podemos dizer ironicamente que as Mulheres Modernas de Almada Negreiros foram de férias para o Algarve. E foram, mas não de férias.
Saíram da sua casa habitual, a coleção Gulbenkian, e rumaram ao sul. Não levaram fato de banho nem guarda-sol: são modernas sim, mas de corrente artística, e olham para nós do lado de lá da tela há 100 anos; modernas sim, até ao tutano, verdadeira e profundamente talvez a últimas grandes modernas, que de lá para cá já vimos muita coisa: pastiches muitos, modernidade pouca.
Vive no Algarve e gostaria tanto de ver a obra de Almada Negreiros sem ter que rumar à capital? Está de férias no sul e anseia por cultura depois de tanta areia nos sapatos, ombros escaldados e hora de almoço passada ao grelhador a inalar fumo de sardinha assada?
Venha aproveitar a sombra culta do Palácio da Galeria do Museu Municipal de Tavira, até 14 de outubro, para ver a nova exposição dedicada a José de Almada Negreiros, focada na representação feminina na obra do artista.
A mostra tem curadoria de Mariana Pinto dos Santos e junta 55 desenhos e pinturas, a larga maioria pertencente ao acervo da Coleção Moderna do Museu Calouste Gulbenkian, assim como excertos da sua obra literária e textos publicados nos jornais e revistas à época.
Na arte de Almada surgem constantemente mulheres modernas emancipadas: antes de todas certamente as suas amigas e companheiras de estrada, imbuídas da moda dos anos vinte – a altura das primeiras feministas como as conhecemos hoje - , as mulheres fumadoras, as sedutoras, as rebeldes, as artistas, as cantoras, as bailarinas, as atrizes, as desportistas ou acrobatas, todas elas representações da mulher inserida na vida realmente Moderna.
No entanto, Almeida Negreiros era um homem, vale isso o que vale, especialmente no primeiro quartel de novecentos, e por isso a Mulher é ainda sujeita a um olhar masculino e de voyeur, que dominou a história de arte – e domina ainda, em tantos artistas - , tornando o corpo feminino num objeto, sendo desta forma uma parte substancial da tradição de Almada Negreiros.
A mulher moderna de Almada engloba ainda todas as outras mulheres que não fariam questão de serem ‘modernas’: na mostra podemos também ver exemplos da figuração feminina enquanto força de trabalho, com o retrato da expressão endurecida e sofrida das mulheres do mar, em imagens que anunciam preocupações realistas, presentes na sua obra plástica dos anos trinta.
Esta exposição enquadra-se numa política de descentralização das mostras da Fundação Gulbenkian, que teve como ponto de partida a mostra José Almada Negreiros: uma maneira de ser moderno, realizada em Lisboa, a que se seguiu, no Porto, a mostra José de Almada Negreiros: desenho em movimento, realizada no Museu Nacional Soares dos Reis.
Mulheres Modernas na obra de José de Almada Negreiros
Até 14 de outubro
Museu Municipal de Tavira / Palácio da Galeria
Calçada da Galeria
8800-306 Tavira
Tel: 281 320 500
Terças a sábados – das 09h15 às 16h30
Fotos por Miguel Andrade, cedidas pela instituição
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