My Lisboa com Bárbara Gil e Pedro Sousa
“Por ser a capital a oferta cultural e as oportunidades para um criativo são sem dúvida maiores que na Madeira”
Porquê Lisboa para si?
Pedro: Por razões pessoais e profissionais. A Bárbara já cá estava e faz todo o sentido para ela nesta fase da carreira aqui continuar com uma base, apesar de dividirmos o nosso tempo entre Lisboa e o Funchal. Além disso, por ser a capital a oferta cultural e as oportunidades para um criativo são sem dúvida maiores que na Madeira. A Urbanistas, empresa com a qual colaboro, tem a sua sede na Madeira, mas encontra-se em fase de expansão e crescimento, sendo o nosso objectivo desenvolver mais projectos a nível nacional e alcançar também o mercado internacional, por isso também tornou-se importante termos alguém no terreno aqui.
Bárbara: Lisboa é uma capital europeia e, como tal, naturalmente existe um ritmo e uma acessibilidade muito mais facilitada a tudo, sobretudo para quem como nós vem de uma ilha no meio do Atlântico muito mais perto de África que da Europa. Tudo é mais complicado, até para conseguirmos sair. Basta estar mau tempo. Por razões profissionais acabou por fazer mais sentido ter uma base em Lisboa. Mesmo tendo em conta que teoricamente posso pintar em qualquer sítio, e hoje com a internet conseguimos chegar a qualquer parte do mundo, a verdade é que Lisboa acaba por ser mais "central " tanto nacionalmente como internacionalmente e com o crescimento dessa vertente da minha carreira facilita-me imenso em termos práticos. A Madeira apesar de lindíssima e de proporcionar uma qualidade de vida invejável também é muito limitada em termos de oferta pelo isolamento, uma limitação que acaba por se acentuar sobretudo nos criativos cujo desejo de consumo e novidade é constante e acelerado. Além de que até há pouco tempo em comparação com outras grandes cidades, financeiramente Lisboa era mais branda para um artista. Houve uma mudança gigante nos últimos 4 anos, mas ainda assim continua a ser melhor nesse aspecto que Londres, Nova Iorque ou Reiquiavique, cidades onde já vivi.
O que é que marca a diferença na capital?
Pedro: O anonimato nem sempre possível numa ilha, a diversidade cultural, a dinâmica, o ritmo de uma cidade europeia.
Bárbara: O genuíno, o facto de no coração da cidade ainda existirem bairros, pessoas de várias gerações e estratos sociais, comércio tradicional... Uma miscelânea que já se encontra em muito poucos sítios. É um equilíbrio difícil de se manter e Lisboa está num ponto de viragem. Sendo de uma ilha que vive do turismo, mesmo a viver no coração de Lisboa, não me incomoda e acho extremamente benéfico para o país e para a cidade esta onda turística, que é no fundo aquilo onde seremos, sem dúvida, mais competitivos. Mas sem extremismos e com bom senso, temos também que manter aquilo que nos torna atrativos. Isso também passa por não acossar moradores para fora do centro e pelo discernimento do que se deve manter e daquilo que é inevitável que desapareça que até pode ser melhor que um "fachadismo" Disneylândia. Não é uma solução fácil.
Bairros de Lisboa
Qual foi a última descoberta que fez em Lisboa?
Pedro: Teatro da Garagem na Mouraria e o Ginjal, dois lugares com um visual incrível que oferecem uma perspectiva diferente da cidade e óptimos para relaxar.
Bárbara: Cacilhas e o Ginjal e a Mouraria. Talvez por eu e o Pedro não sermos Lisboetas e dividirmos o nosso tempo entre o Funchal e Lisboa Ainda temos alguma frescura no olhar e vivemos muito como se estivéssemos em viagem. Andamos sempre em expedições. Cacilhas é lindo especialmente o Ginjal e fica a 10 minutos do Cais do Sodré, numa viagem super agradável pelo rio, sobretudo a meio da tarde. Adorava transformar um daqueles armazéns abandonados num loft casa /atelier. É uma espécie de Mykonos dentro da cidade e é impressionante como tão poucos Lisboetas frequentam ou conhecem. A Mouraria também é um bairro belíssimo com prédios lindos que felizmente começam a ser recuperados mas tal como Cacilhas fica muito no esquecimento dos locais. Tem a tal miscelânea, até de nacionalidades, de cheiros e paladares que lhe fazem justiça ao nome. Gostava que além dos apartamentos de luxo, continuasse a ser recuperado e se enchesse também de portugueses jovens.
Cacilhas
Qual é o seu restaurante favorito?
Pedro: O Asiático.
Bárbara: O Gojuu. Depois de recentemente ter provado sushi na origem, no Japão, mais precisamente em Tóquio no mercado de Tsukiji atesto que o Gojuu não fica a dever. E uns croquetes bem portugueses ao balcão do Gambrinus.
O Asiático
Quando precisa de um lugar para relaxar na cidade, onde pára?
Pedro: Gulbenkian.
Bárbara: Gulbenkian. De verão ou de Inverno um dos lugares mais bonitos de Lisboa. Alimenta a alma e o espírito. A visão de alguém muito à frente do seu tempo, desde a arquitetura, à paisagem, à oferta cultural.
Qual é o segredo mais bem guardado de Lisboa?
Pedro: A fatia de bolo de chocolate decadente da Landeau na Rua das Flores.
Bárbara: Os transportes públicos. Apesar de ter carta, tanto de carro como de mota, em Lisboa raramente conduzo. Inclusivamente vendi a minha Vespa. É um desperdício de tempo, dinheiro e saúde sobretudo para quem é impaciente com laivos de road rage como eu. Os transportes públicos em Lisboa, especialmente metro e comboios são qualidade de vida. Rápidos, eficientes e económicos . Mesmo com os soluços ocasionais. Lá está, mais uma vez, daquelas coisas a que se dá valor quando se vem de um sítio onde pela orografia há limitações intransponíveis nesse sentido e onde apesar de mais pequeno existe maior necessidade de ter um carro. Não ter que se preocupar com estacionamento, com trânsito, com stress e ainda poupar é um luxo que poucos se apercebem que existe.
Onde é que não resiste a fazer umas compras?
Pedro: COS, Área e Embaixada no Príncipe Real.
Bárbara: Apesar de não ser consumista há uns sítios que não resisto, lojas e feiras de velharias e segunda mão como as de São Bento e as feiras da Ladra e da Avenida. Roupa sem dúvida a COS, perfumes na Skinlife e as velas de Samarcanda das Velas Loureto.
Skinlife
Se tivesse de recomendar um espaço de cultura na cidade... qual seria?
Pedro: Under The Cover perto da Gulbenkian, uma loja com menos de 10 metros quadrados com tanto para oferecer: revistas sobre fotografia, design, viagens entre outros tantos temas interessantes. Sempre a mostrar-nos a importância e a sensualidade do formato papel.
Bárbara: A Gulbenkian como já referi, a galeria Underdogs em Marvila, e também os concertos do Teatro São Carlos, a ópera no inverno ou festival ao largo no verão que é das coisas mais bonitas e democráticas que a cidade tem, gratuito e acessível a todos .
Under The Cover
Descreva Lisboa numa única palavra…
Pedro: Efervescente.
Bárbara: É um cliché, mas... Luz . A luz e o céu azul com frio do Inverno são mesmo qualquer coisa.
Dê-nos uma ideia para Lisboa…
Pedro: Quiosques de sushi. Temos Peixe fresco, somos um país de mar, tornar o sushi mais acessível mas sem descurar a qualidade .
Bárbara: Mais piscinas. Nos terraços, clubes, públicas. Piscinas no centro da cidade, para exercício, para descontrair, aquecidas para nos ajudar a relaxar no frio do Inverno, refrescantes para nos ajudar nos dias quentes de Verão. Em Reiquiavique, uma cidade do tamanho do Funchal existem às dezenas, são uma instituição que deveríamos adotar.
Quem são Pedro Sousa e Bárbara Gil?
Bárbara Gil e Pedro Sousa nasceram no Funchal em 1978 e 1986 respectivamente . Vivem e trabalham em Lisboa com o gato Vicente.
Pedro Sousa
Estudou Comunicação Marketing e Publicidade .
Foi atleta de alta competição de Badminton onde acumulou títulos a nível nacional e internacional .
É um dos 3 membros da equipa Urbanistas onde tem desenvolvido o seu trabalho como designer colaborando também em projectos de Ilustração , vídeo e fotografia .
Em Setembro de 2016 foi distinguido com uma menção Honrosa no prestigiado prémio internacional de fotografia Exposure Award cujo júri é parte integrante de publicações como National Geographic , Time Out NY , New Yorker e Range Finder .
Algumas das fotografias que o distinguiram parte da série intitulada "Reversed Arecibo" estiveram presentes na sua primeira exposição a solo no Funchal em Dezembro passado.
Bárbara Gil
Estudou pintura e desenho na Central Saint Martin's College of Art em Londres ,Reino Unido assim como na National Academy of Fine Arts no atelier de Sam Adoquei e na Art Students League em Nova Iorque EUA.
Em 2015 foi vencedora da primeira edição do Urbart , concurso de arte urbana promovido pela Câmara Municipal do Funchal, com a obra "Zapruder" e é neste momento a única artista autora de dois murais de grande escala da ilha da Madeira situados em duas das principais avenidas do Funchal.
Expõe regularmente no país e no estrangeiro,
Em 2017 foi selecionada por um pequeno júri que contou com a participação de Zhang Xi - director do museu de arte moderna de Shangai e Tomoko Yabumae curador do Museu de arte Contemporânea de Tóquio tendo sido a única e primeira ocidental presente com uma pequena mostra no Festival de criadores Independentes, no prestigiado centro cultural Spiral , que teve lugar em Tóquio no passado mês de Maio.
O seu trabalho vive um momento de grande crescimento e procura tendo as suas últimas exposições esgotado e contando já com coleccionadores fiéis um pouco por todo o mundo , em países como Holanda , Islândia , Itália , EUA , França , Áustria , Reino Unido , Bélgica , Peru , Japão e China .
Onde os encontra?
Pedro:
Instagram: instagram.com/petesuzzaa/
Behance: behance.net/petertall
Website: urbanistasdigitais.pt/
Bárbara:
Website: barbaragil.com
Facebook: facebook.com/barbaragilpereira/
Instagram: instagram.com/barbaragilp
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