Paredão de Carcavelos: o ginásio dos dez mil passos
Depois de ler vai trocar já o Paredão de Carcavelos pelo ginásio do costume entre paredes e cheio de gente transpirada. De lycra! Cristo!
Por João Galvão
E depois descobri estes 7 quilómetros, todos lindos, junto ao Tejo e depois em curva já atlântica. Vai da Praia da Torre, em Carcavelos, até Paço de Arcos, frente à Escola Náutica. A passo ginástico, firme e rápido, demora 1h a 1h30, ir e vir.
A partir da Praia da Torre, mal dá 10 dos 10.000 passos encontra o único sitio da área que serve bifes, ótimos, a partir das 11h00; é uma carruagem antiga, em madeira e ferro, e chama-se Luar da Barra. Resista, e desça para as Piscinas Oceânicas, as primeiras, hão de haver outras. Estas são novas e ficam do outro lado da Marina. Têm pranchas a várias alturas e espreguiçadeiras confortáveis, mas são novas, lá para a frente vai encontrar melhor e com mais carácter.
Na primeira curva rio adentro fica uma Pousada de Juventude, construída no antigo forte de Catalazete, para a vigia marítima que o século XVIII fazia à boca do rio para contrariar os galantes piratas que cheiravam o ouro de longe.
A noite custa a partir de €13, em camarata com 6 convivas, e inclui pequeno-almoço.
Na curva seguinte outra vez piscinas, as do Inatel, mas desta vez vintage, afáveis e arredondadas. São mais antigas, de 1965, quando o espaço era o Motel Intercontinental. São como o cenário do filme “As Férias de Mr. Hulot”, em cores amarela e azul marshmallow e cadeirinhas de ferro pintado de branco.
Depois a praia de Santo Amaro, com o mar a compensar a proximidade à Estrada Marginal e depois recato outra vez e logo um excelente restaurante, o Saisa, desenhado para uma praia assim, com esplanada virada ao mar de palha e peixe da maré.
No fortim a seguir, o de São João das Maias, e também ele construído para rebater piratas de setecentos, a passadeira ginga à esquerda, e o Atlântico fica para trás. De frente para nós a Ponte e a Lisboa original e encantadora, a mais linda vista a qualquer hora do dia, mas especialmente no rosado lusco fusco ou já em noite plena, cheia de luzes.
O caminho até Paço de Arcos tem sempre de um lado a rebentação próxima, no inverno até serve de spray de água salgada. E do outro fragas, arbustos ou paredes de xisto emparelhado, um exemplo da diferença que faz um bom paisagista numa câmara municipal.
A melhor qualidade do percurso, para além dele próprio, deve ser a luz e o ar que mudam com a hora do dia, e da noite. Do rosazul da madrugada ou do final do dia, até ao branco brilhante do meio dia ou do negro estrelado da meia noite.
E é sempre seguro, há sempre outro alguém que também corre ou caminha.
Acredite, não quererá voltar a ginásio algum depois de fazer este pedaço do paraíso, à velocidade que quiser. Se quiser corra, mas vai perder tanta coisa.
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