Debaixo dos Pés – Pavimentos Históricos de Lisboa
O mais prosaico material na função mais básica: o Chão de Lisboa chega e sobra para ser objeto de exposição
Até 24 de setembro o Museu de Lisboa – Torreão Poente, na Praça do Comércio, tem em mostra uma exposição peculiar que nos convida à análise da cidade e da sua história olhando para o chão, o que pisamos e que pisámos até aqui chegar.
Estão expostas técnicas, materiais, formas, composições e cores que revestiram o chão da capital, desde a pré-história até ao inicio do século XX. Porque um tipo de revestimento do solo não surge do nada, porque as necessidades do homem aguçaram a sua capacidade inventiva e porque as soluções adotadas traduzem experiências, fórmulas, ensaios e erros, pode afirmar-se que, ao examinar os pavimentos que o homem criou e pisou, se entende melhor a história de um local e a história das pessoas que o habitaram.
As soluções de pavimentação da cidade foram-se modificando ao longo do tempo. Na análise promovida por esta exposição, é evidente que muitas propostas foram ensaiadas, testadas e aferidas, enquanto outras foram adotadas de forma visivelmente casual.
E de que falamos quando falamos de pavimento? Do latim pavimentum, o termo significa a capa, ou o revestimento com que se cobre o solo. O pavimento como elemento arquitetónico, construído com recurso à utilização de materiais selecionados e trabalhados para esse efeito, foi uma consequência da sedentarização e representa uma evolução sofisticada na resposta a necessidades funcionais específicas do espaço edificado, seja ele interior ou exterior.
A visão ampla que esta exposição pretende fornecer quanto ao tipo de revestimento que terá existido em tempos tão recuados como a Pré-História, naturalmente, só pode ser reconhecida arqueologicamente. E a arqueologia é o grande mote deste trabalho, pensado com o intuito de dar a conhecer algumas das muitas intervenções arqueológicas que têm sido realizadas em Lisboa nos últimos anos.
Ao estudar os pavimentos de Lisboa, damos conta que eles são simultaneamente causa e efeito da evolução citadina. Os impostos pedidos à população para o arranjo de ruas e calçadas imprimiu soluções distintas consoante os locais onde, economicamente, a população era mais rica. Do mesmo modo, a crescente utilização de coches, liteiras e seges obrigou a uma sistemática pavimentação e ao alargamento das ruas. Por seu lado, a introdução do automóvel, em finais do séc. XIX, obrigou a novos avanços tecnológicos. A «invenção» do sistema «Mac-Adam» deu solução provisória à questão de criar pavimentos mais regulares, mas suscitou posteriormente, por parte da população, injuriosos comentários ao pó que desse revestimento se libertava.
Em contraponto, as soluções tradicionais milenares não cessaram de se revelar adequadas e funcionais. Afinal, os materiais mais frequentemente utilizados continuaram a ser a pedra e a cerâmica, embora trabalhados de forma distinta.
Chamar a atenção para o chão que todos os dias pisamos, deter os olhos nos padrões da calçada portuguesa que mãos hábeis fizeram, constitui um tributo a todos os que possibilitaram que percorrêssemos Lisboa ao longo de tantos e tantos séculos.
Até 24 de setembro no Torreão Poente
Praça do Comércio
De terça a domingo, das 10h00 às 18h00 (última entrada às 17h30)
Custo da entrada: 3 euros
Créditos de todas as fotos: Câmara Municipal de Lisboa
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