Wool Fest Covilhã: descentralização artÃstica
Esqueça o campo bucólico, de pastorinhas descalças e fiadeiras de lã à luz de uma candeia: as paredes da Covilhã são pura arte contemporânea
Arte contemporânea mas sempre aludindo às pastorinhas e fiadeiras do passado; o Wool Fest da Covilhã honra o passado industrial da serra, trazendo para o interior nomes tão na moda como Vhils, Bordallo II ou Ad Fuel. É impossível domar artistas mas o Wool Fest obriga os participantes a respeitarem e a aludirem, sempre, nas suas obras, aos lanifícios, que antes da União Europeia e do comércio globalizado fizeram da Covilhã um polo industrial exportador, empregando milhares de residentes locais.
O nome do festival nasce de um trocadilho entre Wool, lã, e Wall, parede, uma vez que toda a produção artística do festival se vai fazendo ao longo do tempo pelas fachadas e paredes exteriores da cidade.
Não tem uma periodicidade certa, mas tem sido sempre regular e permanente, trazendo novos nomes ao interior e fazendo da Covilhã mais que um destino de apenas inverno e neve.
Curiosamente, esta arte contemporânea tantas vezes inusitada e irreverente nada choca com o layout das casas antigas e tradicionais, bem pelo contrário. Inesperada isso é, mas se pensarmos que a linha mais definidora da arte é que esta seja capaz de surpreender o público, o Wool Fest é toda uma galeria de arte moderna a céu aberto, e do tamanho de uma cidade.
O Wool Fest é uma das novas tentativas de atrair público à Serra da Estrela; longe vão os tempos em que era a neve o principal apelativo turístico da zona. Com a mudanças climáticas a neve é cada vez mais concentrada numa cada vez mais pequena parcela do ano. São várias as formas que os munícipes e os empreendedores culturais e hoteleiros têm tentado dar a volta ao problema (porque é mesmo de um problema de que estamos a falar), e o substituto mais inteligente para a neve é o rico passado industrial da cidade.
O turismo industrial é uma nova porta para as zonas que têm tal espólio. A par do religioso ou do militar, o turismo industrial começa a dar passos largos e certos, e a Covilhã é um exemplo a seguir.
Sempre com a indústria lanífera como leitmotiv, para além do Wool Fest, podemos visitar na cidade o New Hand Lab, o único edifício industrial antigo que não mudou de aspeto, e que graças a um casal teimoso e cheio de ótimas intenções se reinventa como espaço cultural; o Museu dos Lanifícios, parte da Universidade da Beira Interior, de espólio riquíssimo, que ocupa antigas fábricas mostrando os primórdios desta indústria; e um hotel, o Puralã, onde uma massagem de 90 minutos, efetuada com lã e azeite, faz com que hora e meia pareça ter apenas 10 minutos.
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