Cortiço & Netos: A Family Affair
A Cortiço & Netos é uma loja carismática e única, uma espécie de boutique de luxo só de azulejos portugueses
É um negócio de família, de um avô apaixonado e visionário num mundo que em princípio despertaria pouca paixões, o do azulejo industrial: Joaquim José Cortiço veio do Alentejo nos anos 50, trabalhou como merceeiro e grossista e 20 anos depois iniciou um negócio de compra e venda de linhas descontinuadas de azulejos industriais portugueses.
Ao mesmo tempo que negociava no sector ia reunindo uma vasta coleção demonstrativa desta arte, portuguesa e mundialmente única, com espólio de entre a década de 60 até 2013. Como conhecedor do seu meio, Joaquim Cortiço não buscava fancaria: de entre muitas marcas representadas salientamos da sua fina escolha a Aleluia, a Coimbra, a Constância, a Loiças de Sacavém e a Viúva Lamego. Quase todas as fábricas nacionais que produziam este tipo de material fecharam entretanto, e por isso a Cortiço & Netos mostra hoje, e graças ao avô Joaquim, um acervo único e insubstituível que a fez integrar a Associação para a Interpretação do Azulejo Industrial.
Os quatro netos, Pedro, João, Ricardo e Tiago Cortiço, resolveram continuar a obra do avô e mantiveram aberta a estância, dando-lhe um ar mais fresco e contemporâneo. Tendo em conta a especificidade de cada azulejo, cada um como um pequeno quadro, decidiram que a estância não precisaria de muito mais decoração para além deles (até porque o budget para o fazer não era, de todo, generoso): os azulejos deveriam assumir, orgulhosamente, o papel de destaque do espaço renovado.
O resultado acabou por se tornar em vastos escaparates do tamanho de uma parede, de invejável pé-direito, forrados com um mostruário que assoberba o visitante com as variedades de cor, de forma, e nos muitos dias ensolarados da capital, de brilho pitoresco.
Para que o restante espaço não ‘aborrecesse’ as verdadeiras estrelas da loja, os azulejos, este foi assim pintado de cinza discreto, como um cimento chique, que casa maravilhosamente com a arte parietal útil.
E podem-se comprar estas pequenas joias, custando entre €1 e €14,90, para uma parede, um tampo de mesa, um painel de zona de águas, o que se quiser, ficará sempre bem e português.
Os Netos acabaram por dar o passo em frente, usando os já por si desejáveis azulejos noutras peças de design, como mesas, potes e acessórios de mesa; por que é certo que ao consumidor nacional (e tantos mais do estrangeiro, tantos mais mesmo!, do mundo todo!), este tipo de discurso não passa ao lado. Ainda por cima nestes anos, em que Portugal-tipo-milagre-de-nossa-senhora está tão na berra e que o gosto do antigo Al Andaluz também, muito.
O negócio dos Netos serve não só como ganha-pão, mas, ainda mais relevantemente, para manter esta coleção única disponível para ser vista por quem o quiser fazer. E divulgada da melhor forma – com orgulho - sempre que possível: em 2012 Ricardo Cortiço, um dos Netos, retratou o muito bem desenhado negócio do seu avô através de uma curta-metragem documental, realizada enquanto projeto final do curso de Cinema.
A loja mantem ainda relações estreitas com Universidades portuguesas promovendo pesquisas académicas sobre este fundo histórico raro.
A coleção atrai também a especial atenção de artistas, designers e arquitetos, que usam o stock nos seus projetos. Como a nós também, se formos espertos, blink blink.
Cortiço & Netos
Calçada de Santo André, 66, à Mouraria
1100-497 Lisboa
De segunda a sábado, 10h00-13h00, 14h00-19h00
crédito fotos espaço e retrato: Pedro Sadio
crédito foto mesa: Francisco Nogueira
Artigos Relacionados
- Populares Recentes