Lisboa botânica
Com centenas de anos de colonialismo, entre o calor do trópico e o frescor do norte, Lisboa é um destino obrigatório para todos os fãs de árvores
É melhor que ir ao jardim, é ir ao jardim sabendo que as espécies de árvores que iremos encontrar são especiais e variadíssimas, históricas muitas vezes. E sempre com o melhor cunho paisagístico que um município como Lisboa soube fazer ao longo do tempo.
Há três jardins botânicos em Lisboa obrigatórios: o Botânico de nome, o Tropical e as Estufas, duas, a Quente e a Fria. O primeiro foi criado a meio da década de oitocentos para servir de apoio à investigação da Botânica na Escola Politécnica, onde hoje reside o Museu de História Natural de Lisboa.
Os primeiros jardineiros do Botânico eram estrangeiros, E. Goeze, alemão, e J. Daveau, francês. Juntos recolheram plantas dos 4 cantos do mundo onde havia ainda presença colonial portuguesa, de modo a representar no novo jardim o poder imperial português que nestes meados do século XIX ainda tinha de seu.
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Jardim Botânico de Lisboa, na Rua da Escola Politécica e adjacente ao Museu de História Natural
Há um grupo relevante de palmeiras, trazidas dos 4 cantos do globo, e as cicadáceas são um dos ex-libris do Jardim. Autênticos fósseis vivos, representam floras antigas, que na maioria se extinguiram. Hoje, são todas de grande raridade, havendo certas espécies que só em jardins botânicos se conservam. O Jardim é particularmente rico em espécies tropicais originárias da Nova Zelândia, Austrália, China, Japão e América do Sul, o que atesta a amenidade do clima de Lisboa. Inserido no Jardim Botânico há ainda um Borboletário com acesso ao público.
O Jardim Tropical, cuja foto faz a abertura deste artigo, fica junto ao Mosteiro dos Jerónimos, e quem vai a um atravessa a estrada e vai ao outro. Tanto este como o Jardim Botânico estão classificados como Monumentos Nacionais. Também este é espelho do passado colonialista português e são imensas as espécies que trazidas de longe aqui se deram bem e prosperam: a destacar há ginkgos, sicómoros e cafeeiros, todos imigrados que estão aqui como em casa, e desde há muito, não foi necessário, como agora, usufruir do Aquecimento Global.
As Estufas, a Fria e a Quente, são contiguas e pode visitá-las no topo do Parque Eduardo VII. Como o nome indica, pode encontrar aqui todas as espécies que precisem de uma ajuda térmica para singrar em Lisboa.
Cipreste centenário no Jardim do Principe Real
Para além dos Jardins com J maiúsculo, há espécimes solitários que valem bem uma visita, como o largo e surreal cipreste do Jardim do Príncipe Real. Existe há mais de 140 anos e sobrevive com a ajuda de uma grade que o suporta; afinal, tem de diâmetro mais de 26 metros e é comum, ao passar-lhe por baixo durante a noite, ouvir rapaziada que esfumaça sobre os seus ramos, a um palmo sobre as nossas cabeças.
Jacarandás da Avenida D. Carlos I
Outro cenário arborícola e mágico são os jacarandás da Avenida D. Carlos I, entre a Assembleia da República, em S. Bento, e o Largo de Santos. São árvores discretas durante todo o ano, até ao inicio da primavera. Daí até ao verão despem-se de todo o verde, e até ao verão cobrem-se de roxo violeta e transformam a avenida lisboeta num cenário sul-americano, de cor e aroma.
Tílias no Jardim das Amoreiras
Se o seu cenário não for o trópico tem que visitar a Praça da Alegria, o Jardim da Estrela ou o belo e recatado Jardim das Amoreiras: em qualquer um deles vale a pena a visita propositada às tílias, árvores mais de hemisfério norte, mas que deus quis que também aqui se dessem muito bem. Tenho a certeza de que meio encanto do Jardim das Amoreiras se deve a estas sombras irrequietas e salpicantes que se apanham debaixo das suas tílias, dançando ao som da fonte ao meio.
Fotos de abertura e primeira do texto: Site do Museu de História Natural e da Ciência
Fotos seguintes: C.M.L.
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