Pedro e Inês: Romeu e Julieta à Portuguesa
O amor proibido do Rei D. Pedro e da amada D. Inês é uma história em duas partes, a do romance e a da arquitetura. Uma acaba em tragédia, a outra em glória
D. Pedro foi o oitavo rei de Portugal, coroado a meio do século XIV, e logo de carácter era um personagem de conto. Os cognomes com que ficou conhecido para a história, o Cruel e o Justiceiro, são bem descritivos da sua forma complexa de ser. Ficou especialmente conhecido na História e na Lenda pelo romance moral e politicamente reprovável para a época, ainda enquanto príncipe, com D. Inês de Castro, uma das aias que a esposa, a princesa D. Constança, tinha trazido consigo de Leão e Castela.
Apesar de casado, o príncipe manteve com ela uma relação mais ou menos secreta que gerou quatro filhos. Depois da morte da esposa D. Pedro começou a viver maritalmente com D. Inês, e o escândalo foi geral. Não só porque a relação era vista como imoral, mas mais relevantemente, porque era opinião dos conselheiros do rei, D. Afonso IV, pai de D. Pedro, que a família de D. Inês começava a ter influencia politica na vida nacional. E a existência de filhos frutos da relação ilícita poderia ameaçar a linha sucessória, na qual D. Fernando, filho legitimo de D. Pedro e de D. Constança, era o herdeiro natural.
"Drama de Inês de Castro", por Columbano Bordalo Pinheiro em 1901-1904, exposto no Museu Militar de Lisboa
A opinião dos políticos teve mais peso que o amor, e D. Inês foi assassinada em janeiro de 1355, com o conhecimento e a autorização do rei, D. Afonso IV, pai do príncipe amante.
D. Pedro, levado pela loucura, desencadeou uma guerra civil que se estenderia até agosto do ano seguinte. Acalmado pela mãe, a rainha D. Beatriz, o príncipe celebrou com o pai um acordo de paz. Mas, no fundo, não esquecia.
D. Afonso IV morre 7 meses depois e D. Pedro sobe ao trono. E a base da lenda começa aqui, com a trama tecida a partir da realidade: uma das suas primeiras ações foi mandar matar os assassinos da amante, ordenando que a um fosse arrancado o coração pelo peito e ao outro que lho arrancassem pelas costas.
E a partir daqui a lenda toma formas de thriller de Hollywood: D. Pedro tenta provar que casara já secretamente com D. Inês e que por isso esta deveria ser coroada rainha, postumamente. E este postumamente tem P grande e terrífico: representantes de toda a sociedade, Nobreza, Clero e Povo, foram chamados ao Paço para assistir à coroação do cadáver e para depois lhe beijarem a mão putrefacta. É de Edgar Allan Poe, não é?
Túmulos de D. Pedro e de D. Inês
Túmulo de D. Inês de Castro
Agora que já o cativei, falemos dos túmulos que D. Pedro mandou fazer para si e para a sua amada, em Alcobaça, um ao lado do outro, juntos na morte depois da vida não ter deixado. O conjunto é largamente considerado como uma obra prima da escultura tumular gótica europeia, com decoração e a iconografia de ambas as arcas a dialogar, entrecruzando-se, uma renda de pedra num gótico quase flamejante.
Mais info aqui.
Imagens do site do monumento: http://www.mosteiroalcobaca.gov.pt
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