“A espantosa variedade do mundoâ€
Que o Padrão dos Descobrimentos é lindo por fora já toda a gente viu. Esta exposição é o melhor motivo para o conhecer por dentro.
Lembra-se do filme do ano passado, na saga Harry Potter, o “Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los”? Não, não vamos falar sobre a sequela com estreia prevista ainda para 2018, vamos fazer melhor, vamos dar-lhe a conhecer a versão do assunto que o Padrão dos Descobrimentos traz a partir de 18 de fevereiro e que pode ver na realidade, cientificamente, sem cinema pelo meio.
A exposição “A Espantosa Variedade do Mundo” nasce antes do mais porque na Era da Expansão o Descobridor português foi, afinal, também ele uma espécie de Newt Scamander, o herói do filme. Mas os monstros que encontrou eram reais e é fácil perceber que, no confronto com a novidade e o espanto, a palavra ‘monstro’ tenha sido o mais fácil e imediato carimbo. Quando os europeus chegaram à América do Sul e viram pela primeira vez a planta que chamamos costela-de-adão, habituados ao tamanho recatado de sardinheiras e cravinhos na janela, não resistiram a chamar-lhe 'monstra'; o nome ficou e ainda hoje o seu nome científico continua a ser Monstera. Por isto, é o interior do Padrão dos Descobrimentos o espaço ideal para ver esta mostra sobre seres extraordinários e criaturas maravilhosas.
“A Espantosa Variedade do Mundo” propõe uma reflexão científica sobre o insólito – aqui especialmente associado ao desconhecido, à diferença e ao raro – sobre seres extraordinários de outros tempos e de hoje, através de objetos, desenhos fantasiosos ou representações, sempre com o real como fonte pictórica.
Os mundos real e social são sempre fonte de espanto, seja pela regularidade da sua ordem, como num plano divino, seja pela surpresa da diferença. O espanto e a raridade, bem como o desconhecido, despertam a imaginação e alargam o mundo, para além do real.
A figura do ‘outro’, daquele que desconhecemos, do monstro, povoa a literatura de viagens; são assim as Sereias de Ulisses, na Odisseia de Homero, ou os relatos de Marco Polo ao viajar para o Extremo Oriente antes de todos, é assim o Mostrengo que afugenta quem ousa passar o cabo. Durante séculos a orla marítima, a beira do mundo, é fronteira que separa a terra firme do desconhecido e é nesta fronteira que habitam as criaturas extraordinárias.
Com a evolução científica os monstros e os seres maravilhosos passam a ser olhados não com temor ou fascinação mas sim com curiosidade e questionamento. A partir do século XIX o conceito de monstro fabuloso cede lugar ao objeto de estudo e análise científicos, mas nunca completamente: enquanto houver homem há de sempre haver seres fantásticos que habitam as margens do desconhecido, da técnica e do engenho humano.
Exposição “A Espantosa Variedade do Mundo”
Padrão dos Descobrimentos, Belém
18 de fevereiro a 3 de junho de 2018
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Imagens cedidas pela organização
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