Túmulo 9 do complexo megalÃtico de Alcalar abre ao público
Os monumentos megalíticos funerários de Alcalar estiveram 5000 anos à espera da sua visita
Não é de agora que o Algarve é sítio aprazível onde toda a gente quer viver. Prova disto é o complexo megalítico de Alcalar, onde, a partir de 14 de abril, se pode visitar o túmulo 9, construção pré-histórica que bem revela a perícia e o engenho da Humanidade de um tempo que fácil e precipitadamente rotulamos como menos sábia ou tosca.
Para além dos túmulos, resultado da escavação arqueológica, existe um Centro de Interpretação onde o visitante tem uma ideia completa e abrangente de como era a vida no Algarve há 5000 anos atrás.
No primeiro plano o túmulo 9, o mais recente a ser recuperado, e atrás o túmulo 7. Foto ©DRCAlg/R. Parreira
A propósito da apresentação ao público do túmulo 9 falámos com Rui Parreira, arqueólogo e Diretor de Serviços dos Bens Culturais, da Direção Regional de Cultura do Algarve.
O Centro de Interpretação serve de suporte informativo ao visitante. O que podemos nele ver?
O Centro de Interpretação é um equipamento que se encontra na dependência da DRCAlg e é gerido em pareceria com o Museu de Portimão. Fornece explicação e interpretação sucinta sobre a paisagem e o conjunto monumental de Alcalar: vestígios de uma antiga povoação pré-histórica, com templos funerários megalíticos, edificados e usados ao longo de vários séculos, no período Calcolítico (III milénio a.C.). Informa também sobre os vestígios localizados nos arredores: cavidades naturais e criptas escavadas na rocha (hipogeus), usadas na mesma época como sepulcros coletivos.
Interior do monumento 7 de Alcalar
Para além dos túmulos, que mais achados se encontraram? Podem-se ver? E onde?
Os monumentos do agrupamento oriental da necrópole estão museografados e podem visitar-se. Os monumentos do agrupamento tumular central situam-se em terrenos públicos e são acessíveis aos visitantes. Os vestígios do povoado calcolítico e os restantes monumentos situam-se em propriedades particulares, com acesso condicionado à prévia autorização dos respetivos proprietários. Os objetos recolhidos nas escavações que aqui se realizaram desde o século XIX, conservam-se no Museu Nacional de Arqueologia (Lisboa), no Museu Dr. Santos Rocha (Figueira da Foz), no Museu Dr. José Formosinho (Lagos) e no Museu de Portimão.
Desde quando se procede aqui a escavação arqueológica?
Os arqueólogos têm explorado o assentamento de Alcalar desde finais do século XIX. Mais recentemente, o agrupamento oriental da necrópole megalítica, com os túmulos 7 e 9, tem sido investigado desde 1987.
Pormenor de maqueta do munumento 7 de Alcalar, exposta no Museu de Portimão
Como era a vida das pessoas aqui, naquela altura?
Desde 1987, a investigação científica realizada no âmbito do ‘Projeto Alcalar’, patrocinado pela Direção Regional de Cultura do Algarve e coordenado pelos arqueólogos Elena Morán e Rui Parreira, produziu conhecimento sobre as arquiteturas da área habitacional e dos túmulos megalíticos, a produção dos solos e a evolução na ocupação do território, aproximando-nos das práticas sociais. Conhecimento que, numa política de patrimonialização e proteção dos bens culturais, proporcionou os fundamentos para a salvaguarda do assentamento de Alcalar através da ampliação da sua classificação como Monumento Nacional à totalidade dos vestígios e o estabelecimento de uma zona de proteção.
Ouvi que na inauguração se comemorará com cerveja da época? Como era ela e como se obtinha?
A cerveja artesanal, produzida pela ‘Quinta dos Avós’ (Algoz), que não utiliza lúpulo mas sim bagas identificadas entre o material orgânico recolhido nas escavações arqueológicas, resulta de um processo de transferência de conhecimento e inovação: da cooperação entre os investigadores do ‘Projeto Alcalar’, com os seus estudos de paleoetnobotânica e de produção de solos, e os artesãos da Quinta dos Avós.
Oficina de moagem, como a que poderá encontrar dia 21 de abril no evento "Um Dia na Pré-História", em Alcalar
O sítio arqueológico e o Centro de Interpretação são muitas vezes palco de recriações históricas, onde pelo menos os mais novos têm diversão garantida; no próximo dia 21 de abril haverá, no complexo dos Monumentos Megalíticos de Alcalar, “Um Dia na Pré-História”, com ateliers que recriarão atividades de caça, olaria, tecelagem, fabrico de ferramentas e preparação e cozedura de alimentos. Também poderemos aprender a fabricar aquela tal cerveja pré-histórica, a realizar instrumentos agrícolas e adornos, a transportar grandes blocos monolíticos, como faziam aqueles nossos antepassados, e a arte da fundição do cobre.
Oficina de tecelagem, como a que poderá encontrar dia 21 de abril no evento "Um Dia na Pré-História", em Alcalar
Haverá ainda uma oficina de arqueologia experimental, virada especialmente para a alimentação pré-histórica, envolvendo a preparação de alimentos e a sua confecção. Mariscos, berbigão, amêijoa e peixe fazem igualmente parte da ementa que no final se poderão provar, numa viagem ao palato de há 5.000 anos atrás. Tudo sem fósforos nem facas, a equipa especializada neste tipo de experiência demostrará como era cozinhar e comer na longínqua pré-história.
Não se esqueça, dia 21 de abril, entre as 10h00 e as 19h00, nos Monumentos Megalíticos de Alcalar, com entrada gratuita.
Mais info aqui
Imagens cedidas pelo Museu de Portimão, pelo Centro de Interpretação e por Rui Parreira.
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