O Museu de Arte Popular mostra tradição e a contemporaneidade que nela bebe
À riqueza etnográfica do centro interior a ADXTUR foi buscar a genuinidade da agricultura ancestral e ofereceu-a ao design
Está patente até dezembro, no Museu de Arte Popular, em Lisboa, a exposição “Agricultura Lusitana. 2015-18. Craft+Identidade+Design”, gizada pela ADXTUR, a Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto.
Falámos sobre esta exposição, e sobre o projeto que a escora, com Rui Simão e Bruno Ramos, respectivamente o coordenador e o diretor de comunicação da Agência, e com João Nunes, o designer e orientador criativo do projeto Agricultura Lusitana.
Sala da exposição “Agricultura Lusitana. 2015-18. Craft+Identidade+Design”, no Museu de Arte Popular, e na foto de abertura duas das peças em mostra, "Lusitudes I" e "Lusitudes II", por Vasco Baltazar e Zita Rosa, grés e madeira.
Como surgiu a ideia desta exposição e quem a leva avante?
O projeto Agricultura Lusitana 2015-18 é promovido pela ADXTUR- Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto, tem orientação criativa do designer João Nunes, envolveu cerca de 150 pessoas, vindas de 9 escolas superiores de design nacionais, 22 ateliers de craft, e uma equipa de design, que foram convidadas a imergir na realidade das aldeias e a inspirar-se no contexto dos lugares para, a partir daí, criarem objetos significantes da memória e da identidade cultural, dos valores do território e do espírito português.
A Agricultura Lusitana foi o tema central da participação das Aldeias do Xisto em representação de Portugal como país convidado na EUNIQUE 2015 - International Fair for Applied Arts and Design, em Karlsruhe, na Alemanha.
O tema explora o potencial que a agricultura permitiu na evolução do homem, na fixação aos lugares, no desenvolvimento dos artefactos e de toda a cultura rural, material e imaterial, na qual está inscrita grande parte da nossa matriz identitária. Nestes territórios, as Aldeias do Xisto são um exemplo da procura por novos caminhos de desenvolvimento – assumindo o território como um laboratório vivo, têm convocado ao longo dos últimos anos o saber fazer e o design para, a partir dos seus recursos endógenos, estimular uma economia criativa capaz de conciliar objectivos sociais, culturais, económicos e ambientais.
"In Cesto in Vidro", por Mónica Faverio e Sérgio Lopes
Porquê a agricultura como tema?
O tema da agricultura foi escolhido pelo seu potencial antropológico, sociológico, ecológico e económico para interpretar a identidade das comunidades e a sua ligação aos lugares que habitam e, deste modo, gerar argumentos para idealizar e produzir artefactos e serviços representativos e significantes dos valores locais.
A exposição Agricultura Lusitana 2015-18, que estará patente no Museu de Arte Popular até 30 de dezembro de 2018, transporta-nos para o território das Aldeias do Xisto, apontando caminhos para o desenvolvimento rural a partir das relações Craft+Design+identidade. Apresenta peças que interpretam o saber fazer, a memória e a identidade cultural portuguesas. Está enquadrada na programação da Direção-Geral do Património Cultural alusiva à celebração do Ano Europeu do Património Cultural.
"Pernas para que te quero - A revolta dos legumes", por Casa da Olaria (Ana Lousada e Carlos Neto), grés feldespático e vidrados
Nesta mostra, porque encontramos novo design exposto ao lado de artefactos antigos?
Reinventar a cultura dos lugares com as pessoas que neles habitam é a linha de atuação das Aldeias do Xisto para criar valor social e económico no território. É sobre a nossa identidade que estamos a experimentar, convocando a criatividade e o conhecimento. Nesse sentido, o tema da agricultura proposto para esta exposição seria infinitamente pobre se não se pudesse ancorar nos registos e no saber dos que registaram esta cultura num momento alto.
A materialização do projeto revela o potencial criativo e produtivo nacional, desdobrando-se em diversas vertentes num contexto em que artífices e designers são convidados a escreverem com a matéria que transformam a identidade do tempo em que vivemos no espaço que habitamos. Reinventar a cultura implica humildade, requer um conhecimento holístico e pluridisciplinar que importa convocar e exige o estabelecimento de um modus operandi que leve a práticas conducentes a um desenvolvimento harmonioso, baseado no respeito pelas pessoas que ainda vivem nestes lugares e pela memória e identidade que aí foram construídas.
Uma das carismáticas Aldeias do Xisto, a de Talasnal, na região da Lousã
Que zona do país ocupa esta mancha cultural e o que a distingue do resto nacional?
O território das Aldeias do Xisto abarca 5.000Km2 no interior da Região Centro de Portugal, conhecido como o Pinhal Interior. É caracterizado por ser bastante montanhoso devido às serras de Açor, Alvelos e Muradal, Gardunha, Lousã, e pelos rios Alva, Alvoco, Ceira, Ocreza, Tejo, Unhais, Zêzere.
A Rede das Aldeias do Xisto é constituída por 27 aldeias distribuídas pelo interior da Região Centro de Portugal. Estes pequenos núcleos agregam o potencial regional reflectido na arquitetura, nas amenidades ambientais, na gastronomia e nas tradições, entre outros elementos culturais distintivos apresentados em produtos e serviços de excelência. A Rede das Aldeias do Xisto é um projeto de desenvolvimento sustentável, de âmbito regional, liderado pela ADXTUR- Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto, em parceria com 21 Municípios da Região Centro e com mais de 200 operadores privados. Os objectivos das Aldeias do Xisto são a preservação e a promoção da paisagem cultural e natural do território, a valorização do património arquitectónico construído, a dinamização do tecido socioeconómico e a renovação das artes e ofícios.
Como atua a ADXTUR?
A missão das Aldeias do Xisto é procurar um futuro melhor para este território, usando a sua identidade cultural simultaneamente como matéria-prima e crivo, regendo-se por valores de sustentabilidade ambiental e social, e mobilizando para esse desígnio recursos e energias numa lógica de laboratório vivo onde se experimenta e realiza. Trabalhar a partir dos valores ambientais, sociais, emocionais e simbólicos, sustentando-os em redes de construção e partilha de conhecimento, assume total centralidade na procura por novas formas de afirmar um destino de qualidade para viver e criar.
Este caminho tem sido trilhado a partir da reinvenção da cultura dos lugares, refletindo sobre eles à luz da contemporaneidade e recorrendo a um amplo quadro de relacionamentos entre as aldeias, os seus habitantes e os novos atores, criando uma dinâmica de construção do projeto baseada nos valores da responsabilidade e do saber fazer, estar e ser. Acima de tudo é nas pessoas que reside a solução para a encruzilhada do tempo em que vivemos e são elas a medida do desenvolvimento.
O espírito natural, genuíno e pacífico que caracteriza a ambiência das Aldeias do Xisto
Que mais projetos têm as Aldeias do Xisto para um futuro breve?
As Aldeias do Xisto lançaram recentemente, com o apoio do programa Centro 2020, a nova plataforma online de reservas Bookinxisto (www.bookinxisto.com). A plataforma apresenta sugestões de alojamento, experiências e restaurantes. O Bookinxisto funciona numa base de comércio justo, não tendo, por isso, intermediários. Ou seja, o valor das reservas, que é garantidamente o mais baixo do mercado, vai diretamente e por inteiro para os parceiros locais. É, assim, a página preferencial a visitar quando procura alojamento, experiências e restaurantes nas 27 Aldeias do Xisto. O Bookinxisto está também disponível para smartphones, sendo possível fazer o pagamento através de referência multibanco ou cartão de crédito, sem qualquer cobrança de comissão ou extras.
Se é amante de pesca, há um conjunto de datas que pode já marcar na sua agenda. O Achigã Challenge - 2º Circuito de Pesca Aldeias do Xisto começa a 19 de maio na Aldeia do Xisto de Álvaro e prolonga-se até 13 de outubro no Trízio, Sertã. Esta competição de pesca embarcada sem morte ao Achigã divide-se entre as albufeiras das barragens do Cabril e de Castelo do Bode.
“Sempre a água – Water always” é o tema que inspira a 13ª edição dos Elementos à Solta – Art Meets Nature. De 31 de maio a 3 de junho, a Aldeia do Xisto de Cerdeira, na Lousã, é o cenário onde artistas de diferentes áreas - olaria, cerâmica, têxteis, desenho, escultura - são convidados a trabalhar, expor, conversar, petiscar e conviver. Há workshops, exposições, música ao vivo, teatro. Não faltam motivos para rumar à Cerdeira e participar num evento intimista que convida à experimentação e criação.
E como vem aí o Verão, a Rede de Praias Fluviais das Aldeias do Xisto engloba um conjunto das melhores zonas balneares de rio da Região Centro. São locais de lazer e bem-estar únicos que, devido às suas características naturais, proporcionam recantos de enorme beleza. Este conjunto selecionado de praias apresenta infraestruturas de apoio adequadas, tendo algumas delas bandeira azul, classificação de Praia Acessível ou qualidade Ouro, atribuída pela Quercus.. A qualidade da água e do meio envolvente é um dos principais critérios de seleção destas praias, que se encontram em zonas de património ambiental e áreas naturais classificadas.
Exposição “Agricultura Lusitana. 2015-18. Craft+Identidade+Design”
Até 30 de dezembro, no Museu de Arte Popular
Avenida Brasília, em Belém
1400-038 Lisboa
Tel: 21 301 1282
Mais info sobre a exposição e a ADXTUR aqui
Imagens cedidas pela organização
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