Cursos de Kintsugi no MNAA: triunfos acidentais
Ao longo deste mês o Grupo de Amigos do MNAA, Museu Nacional de Arte Antiga, faculta cursos da arte japonesa Kintsugi
Frente à adversidade e ao acaso do destino os japoneses têm uma atitude diametralmente oposta à nossa, dos ocidentais. Quando nós vemos um ciclone que nos leva as telhas de casa gritamos impropérios contra a malvada da natureza; no Japão, quando chega o tufão desmancham a casa (as portas de correr são mesmo de papel), deixam a Natureza atuar e em paz voltam a construi-la. O mundo natural não é encarado como um adversário, mas sim como uma parte de um todo cósmico, de que a humanidade é apenas mais uma parcela.
Esta cumplicidade com o acaso e o com destino é bem espelhada no Kintsugi, a arte de reconstruir com laca dourada os objetos de madeira, vidro ou cerâmica que partimos sem querer, fazendo do remendo uma adenda decorativa, mais!, uma filosofia ou motivo de contemplação.
O Grupo de Amigos do Museu Nacional de Arte Antiga aceitou a proposta de Kristina Mar, especialista nas artes da cerâmica, e nesta do Kintsugi em particular, de lecionar em dois workshops de três dias cada um esta prática japonesa com pelo menos seis séculos de existência.
É um método de restauro que não pretende disfarçar o arranjo, bem pelo contrário: a peça quebrada é colada com laca Urushi e as linhas de fractura são realçadas a ouro. O restauro Kintsugi não pretende esconder os defeitos pois estes são parte integrante da história da peça; aqui, as imperfeições são para se verem e o restauro serve para evidenciar a nova beleza que resulta da recriação efectuada.
Estes workshops, promovidos pelo Grupo de Amigos do MNAA, decorrem no Museu Nacional de Arte Antiga e, cada um deles, será constituído por 3 sessões de duas horas e meia cada, nas quais será apresentado um enquadramento histórico ao método, explicadas as técnicas e os materiais, discutidos os casos e efectuada a aplicação concreta em exercício prático.
Os participantes deverão levar uma peça danificada, em cerâmica ou madeira, que gostariam de ver restaurada. Esta peça irá, assim, ser usada como objecto de trabalho.
Para além da abordagem teórica, a inscrição inclui o uso das ferramentas e materiais indispensáveis à realização do restauro de uma peça por participante, de tamanho médio até cerca de 15 a 20cm. Os trabalhos de aplicação serão efectuados com pó dourado - proveniente de materiais menos nobres do que o ouro - e folha de prata.
A orientadora, Kristina Mar, reside em Kyoto, Japão, há mais de 25 anos, trabalhando como artista independente. Nasceu em Coimbra, formou-se em cerâmica industrial e frequentou escultura na Escola Superior de Belas Artes do Porto. Participou em residências artísticas no Japão (Shigaraki Ceramic Cultural Centre) e leccionou no departamento de cerâmica da Universidade de Arte e Design em Kyoto.
O primeiro workshop começa a 12 de outubro, para mais informações e preços, consulte a página de facebook do evento dos Amigos do Museu Nacional de Arte Antiga.
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