A comida saudável nunca soube tão bem como n’O Watt
“O Watt tem uma linha marcada de saúde, mas sem radicalismos”
O Watt é o mais recente espaço do chef Kiko Martins, que já soma vários restaurantes de sucesso na capital. Este situa-se no moderno Edifício Sede da EDP, que já é um marco arquitetónico da cidade, no Cais do Sodré. Quem conhece o chef sabe que cada um dos seus espaços tem um conceito bem definido. N’O Watt a palavra de ordem é saúde. Aqui não entram gorduras, açúcares, fritos, assados ou refogados. O menu divide-se em crus, alimentos cozinhados na grelha e pratos confecionados ao vapor.
Caso não seja adepto de comida saudável e já esteja a meter de lado a ideia de ir a este restaurante, aguente mais um bocadinho e leia este artigo até ao fim. O Lisbonne Idée foi visitar O Watt e pode garantir-lhe que não é por serem saudáveis que estes pratos perdem em sabor. Muito pelo contrário, até nos atrevemos a dizer. Muitas vezes a gordura e o açúcar são “ferramentas” fáceis a que os restaurantes recorrem para dar sabor a pratos desinteressantes e pobres a nível nutricional. N’O Watt o sabor dos alimentos brilha por si próprio.
A primeira impressão, ao entrar no amplo espaço d’O Watt não podia ser melhor. E isto deve-se à decoração de interiores, assinada pelo britânico Jasper Morrison. O restaurante é grande, tendo capacidade para 110 pessoas ao todo, sendo que a zona de refeições se divide em três secções, separadas por blocos de parede, de forma a deixar o ambiente acolhedor. Na decoração destaca-se a madeira, alguns elementos em verde e objetos retro. Nos restaurantes do chef Kiko Martins a decoração é sempre um fator importante e O Watt não é excepção.
À entrada fica o bar, onde se é recebido por uma simpática hostess. Enquanto espera por mesa pode bebericar um Ampere, o cocktail de assinatura d’O Watt, que é feito com gin, coentros e gengibre. O sabor do gengibre é notório e dá um toque muito especial à bebida. Depois de degustar a bebida segue-se para o que realmente importa, a refeição. Esta começa de forma auspiciosa, com um delicioso couvert composto por dois tipos de flat bread, pão naan e alfarroba, com molho romanesco e tzatziki a acompanhar.
Ampere, cocktail de assinatura d'O Watt
Pode optar pelo menu de degustação (54,80€) e conhecer seis pratos da carta, ou então escolher por si. Mas acredite que é difícil optar. Uma das entradas é o Tomate Bio com Burrata. Neste prato o tomate é protagonista, servido em várias texturas, juntamente com burrata, manjericão e caviar balsâmico. É interessante provar uma entrada que, à partida já se conhece de outros sítios, mas que n’O Watt é servida de forma tão criativa, sendo que todos os sabores se destacam, num todo harmonioso para o paladar.
Tomate Bio com Burrata
Outra das entradas é o Poke de Atum, um prato havaino que faz lembrar o ceviche (tão bem representado n’A Cevicheria, também do chef Kiko). Este não leva leite de tigre, mas sim molho ponzu, feito à base de soja e citrinos. Inesquecível é também a entrada de Cogumelos e Couve-Flor, para nós a que mais se destaca das três, que leva vários tipos de cogumelos, couve-flor em várias texturas, avelãs e goma trufada. Nunca a couve-flor foi tão interessante como neste prato, lhe garantimos!
Cogumelos e Couve Flor
A incursão pela carta d’O Watt segue pelos pratos principais. À mesa chega a Espetada de Polvo Galega, grelhada no Josper, servida com cevadinha e arroz, cujo sabor nos remete para a paelha. O próximo prato faz-nos viajar. O Borrego Médio Oriente é composto por carrê de borrego, grão-de-bico, espargos, iogurte com zaatar e pistachos. Um dos pontos mais interessantes dos restaurantes do chef Kiko é que têm influências de cozinhas de todo o mundo e O Watt, apesar de ter uma linha demarcadamente saudável, também benefícia desta mistura de influências.
Borrego Médio Oriente
A refeição termina (tem mesmo de terminar?) com uma nota doce, mas sem vestígios de açúcar branco. Lá por ser sobremesa não tem de deixar a saúde de lado. É isso que Kiko Martins prova com o Açaí com Gaspacho de Frutos Vermelhos, que leva sopa de morangos, espuma de papaia, gelado de açaí, frutos vermelhos e esferas de lima. Esta reinterpretação da famosa taça de açaí é, atrevemo-nos a dizer, bem melhor que a original.
Açaí e Gaspacho de Frutos Vermelhos
“O Watt tem uma linha marcada de saúde, mas sem radicalismos. O que pretendo fazer aqui é um conceito saudável, sem fritos, sem gorduras, com outras formas de adoçar”, afirma o chef Kiko Martins. “Mesmo ao nível das sobremesas, aqui fazemos um trabalho de tentar eliminar por completo o açúcar. Isso foi um trabalho muito exaustivo, de tentar criar sobremesas sem açúcar e pratos com o mínimo de gordura possível.”
Para o chef, “a comida saudável pode ser tão boa ou melhor do que outras”. Diz também que “Este conceito é mais desafiante por não estar associado a nenhum país, tem uma filosofia mais abrangente. Penso que talvez o mais complicado tenha sido cozinhar com essa preocupação específica, de tirar os fritos, açúcares e gorduras. Foi um trabalho de dois meses, meu e do Martin [Martin Schreiner, chef executivo], testar os pratos da ementa. Vamos mudar a ementa daqui a um mês e queremos ajustar umas coisas e mudar outras. A ideia é não parar, não estagnar.”
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