Esvoaçam anjos no Museu Nacional de Arte Antiga
Até 6 de fevereiro pode ver na Sala do Mezanino, no Museu Nacional de Arte Antiga, a exposição “Anjos. Entre o Céu e a Terra”
Na exposição “Anjos. Entre o Céu e a Terra” as vitrinas mostram bem como os anjos foram profusamente usados acima de tudo como tema ornamental. A elegância andrógina dos anjos, sempre belos, jovens e delicados, constituía um desafio para a criatividade artística.
Não eram apenas mensageiros divinos que desciam à terra; os anjos, pela complexidade da forma – humanos com asas, há lá coisa mais difícil de desenhar – eram no desenho europeu de entre os séculos XVI e XVIII uma exibição de mestria no desenho e, mais raramente, personagens determinantes em algumas das histórias.
Reforçando a dimensão sagrada da cena em que se inseriam, os anjos ganharam espaço nas representações religiosas povoando a dimensão celestial, esvoaçando entre nuvens ou enchendo de sugestões musicais a mansão divina, como na Santíssima Trindade com Anjos, atribuída da a Pietro Faccini (1562-1602), um dos introdutores do barroco bolonhês.
São inúmeros os episódios tanto do Antigo como do Novo Testamento em que a sua presença faz alusão ao papel de mensageiros entre os homens e o divino. É o caso do tema Os Três Anjos visitando Abraão, do pintor Filippo Bellini (c. 1550-1603), discípulo de Federico Barocci (1528-1612), ou do tema porventura mais representado na pintura ocidental – A Anunciação – pretexto para a incessante recriação do formoso anjo Gabriel, ornado de longas e ricas vestes e deslumbrantes asas, de que aqui se exibem três composições, uma das quais assinada por um enigmático ‘Gerardus a Prato’, datada de 1587, outra de autor italiano desconhecido, do século XVI ou inícios do XVII, e uma terceira, setecentista, assinada por um não menos enigmático e desconhecido Tramezani.
Também o tema Tobias e o Anjo, que narra a história da proteção prestada ao jovem viajante pelo anjo Rafael, transformado em anjo guardião (por vezes tratado como Anjo da Guarda), foi pretexto frequente para a fantasia dos artistas. Nesta mostra, encontramos três vezes esse tema: tratado por um desconhecido maneirista italiano da segunda metade do século XVI, numa versão atribuída ao pintor romano Stefano Pozzi (1708-1768) e noutra, ainda, de Giuseppe Cades.
Entre os importantes exemplares portugueses desta coleção, concentramos a atenção em três dos diversos e poderosos estudos preparatórios executados por Cyrillo Volkmar Machado (1748-1823), em 1783, para o teto da Igreja da Encarnação, em Lisboa, sob o tema Alegoria ao Mistério da Encarnação. Por todos eles perpassa a sedução que este tema inegavelmente apresentou para muitas gerações de artistas.
Crédito foto da abertura:
TRAMEZANI (autor italiano não identificado)
Anunciação
Meados do século XVII
Pena, tinta castanha e aguada de tinta castanha
Proveniência: Palácio das Necessidades, 1957
Museu Nacional de Arte Antiga, inv. 3009 Des
Fotografia © Paulo Alexandrino, MNAA
Crédito foto no corpo do texto
GIUSEPPE CADES (Roma, 1750-1799)
Anjo da guarda. Anjo resgatando criança de uma serpente
Pena e aguada de tinta da China, desenho subjacente e quadrícula a lápis negro
Proveniência: Academia Real de Belas-Artes, 1884
Museu Nacional de Arte Antiga, inv. 2221 Des
Fotografia © Paulo Alexandrino, MNAA
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