Convento de Mafra faz 300 anos
Não são muitos, mas se pensarmos que os Estados Unidos da América são ainda mais novos, by a long shot, Mafra é um portento
Foi todo um ano a comemorar o tricentenário do edifício religioso mais imponente do país. Senão veja e admire: o Monumento de Mafra congrega um Paço Real, uma basílica, um convento, um hospital monástico, um jardim e uma enorme tapada, uma das mais notáveis bibliotecas do século XVIII à escala mundial, a mais importante coleção de Escultura Barroca de Portugal, e dois carrilhões, os maiores de todo o mundo, constituídos por 98 sinos afinados musicalmente entre si e o único conjunto conhecido de seis órgãos de tubos concebidos para utilização simultânea.
O Convento foi a mola de desenvolvimento social e económico que fez nascer Mafra, dando-lhe identidade e vida. Nasceu da promessa de um rei a deus e de um clero que o lembrava constantemente que as promessas são para se cumprirem, pelo menos a acreditar em Saramago, que com o “Memorial do Convento” soube ilustrar a vida de quem decidiu construí-lo e de quem o concretizou com sangue, suor, lágrimas e, tantas vezes, com a própria vida.
Por tudo isto não admira que estes trezentos anos de reverenda idade tenham merecido um ano de comemorações culturais que culminam agora numa imperdível exposição onde se analisa profundamente este monstro sagrado, monstro no melhor dos sentidos, entenda-se.
No dia 17 de novembro comemorou-se o lançamento da primeira pedra da sua construção, abrindo ao público a exposição “Do Tratado à Obra: Génese da Arte e da Arquitetura no Palácio de Mafra”, o último evento da corrente comemorativa iniciada em novembro de 2016. A mostra é um exercício de disseção do monumento, da sua idealização e da sua construção, espalhada por várias salas do palácio. Trazidos da Biblioteca adjacente podem ser vistos vários tratados de arquitetura do século XVIII, que mostram bem os conhecimentos técnicos e artísticos necessários para o edificado. E o tamanho físico da empreitada, que a certa altura envolvia o trabalho de 45 mil homens, praticamente toda a força operária do reino que por decreto real foi obrigada a vir para Mafra, abandonando os novos projetos e as reparações do restante país nesse entretanto.
A exposição “Do Tratado à Obra: Génese da Arte e da Arquitetura no Palácio de Mafra”, é comissariada por Paulo Pereira, professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, conta com cerca de uma centena de peças, agrupadas em quatro núcleos (Tratados, Máquinas e instrumentos de construção, Arte e o Rei e a obra) que evocam a génese do pensamento e da cultura artística e arquitectónica Barroca, que está na base da construção do Palácio de Mafra e na colaboração de muitos artistas estrangeiros, resultando num dos mais importantes monumentos do seu género na Europa. A exposição está patente ao público até 31 de maio de 2018.
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