MMIPO faz dois anos e bate recordes
Só se consegue isto quando o museu é muito bom; como o Museu e Igreja da Misericórdia do Porto, o MMIPO, para os amigos
Entre a primeira intenção de abrir este museu e a sua concretização passaram 100 anos. Mas a espera valeu a pena, em apenas dois anos de vida o MMIPO já recebeu mais de 75.000 visitas, e está preparado para muito mais, basta ver a vasta oferta de eventos e novas aquisições que não param a movida do museu da Rua das Flores, no Porto.
Foi nos finais do século XIX que um Provedor eminente e esclarecido da Misericórdia, o Conde de Samodães, teve como desejo este museu. Mas todas as condições se encontraram reunidas apenas 100 anos depois. Não basta ter acervo, é preciso sítio e salas que o recebam da melhor forma. E foi em 2015 que estas condições se proporcionaram, porque a vontade de abrir este museu era a mesma, ou mais forte ainda, que há 100 anos atrás.
O quadro Fons Vitae, obra maior da pintura flamenga, testemunha a pujança do Porto e as suas ligações ao Norte da Europa no séc. XVI. E numa sala que lhe fica tão bem.
O MMIPO está situado numa das artérias mais importantes da baixa portuense, a Rua das Flores, que devido ao seu valor histórico e patrimonial, à reabilitação, recente e conscienciosa, levada a cabo nos imóveis e à animação da própria rua, que é hoje em dia uma das zonas mais reconhecidas e visitadas quer por quem lá vive – faz parte da ligação da alta à baixa da cidade, sem carros – e quem por quem a visita, que no Porto são quase outros tantos.
Esquisso original, do próprio Nasoni, da fachada da Igreja da Misericórdia adjacente ao Museu, uma das joias do acervo exposto
O edifício belo e histórico comunica interiormente com a Igreja da Misericórdia, da pena do próprio Nasoni, o mesmo da Torre dos Clérigos. Às vezes penso quem escolheu quem, se o Porto o Nasoni se o Nasoni o Porto. Nasoni é o Porto que temos na cabeça, granítico, antigo e bem feito.
Mas nem tudo é histórico no edifício do Museu; do meio da fachada clássica sai uma gota gigante que escorre, em ferro, contemporânea e audaz, de Rui Chafes, mas que liga tão bem com o barroco portuense.
A fachada do MMIPO, onde a escultura contemporânea de Rui Chafes é um complemento, não um contraste
O edifício do museu tem como hall uma jóia da arquitetura do ferro - na foto de abertura deste artigo - também ela tão Porto, um pátio central coberto a vidro, que lança uma luz única sobre o espaço. E todas as salas são peças tão ou mais relevantes que as obras expostas.
A celebrar este aniversário, o MMIPO orgulha-se de apresentar um Domingos Sequeira, o mesmo pintor pelo qual toda a gente comprou ao MNAA pixéis para “pôr o Sequeira no lugar certo”.
Estes pixéis são todos do MMIPO e são todos lindos, numa pintura chamada “Santa Irene curando São Sebastião”. Está numa nova sala de exposições temporárias, a Sala das Artes, que tem mesmo um acesso direto do exterior, e a entrada é gratuita; até se vai ver o Sequeira a caminho de outro sítio qualquer, à borla.
A mais recente aquisição do MMIPO, "Santa Irene curando São Sebastião" de Domingos Sequeira, na Sala das Artes com entrada gratuita
Há pouco tempo, em dezembro de 2015, pouco depois da sua abertura, o MMIPO foi o cais do adeus onde os portugueses se despediram de um Josefa de Óbidos que partiu para integrar a coleção permanente do Louvre, em Paris.
Vá pelo Sequeira, vá pelo Nasoni, vá pelo riquíssimo espólio. Mas vá também pela Rua das Flores, imperdível, onde antes do MMIPO se bebe Porto na esplanada enquanto duas estudantes de canto entoam o Lakmé, do Delibes. É possível, aconteceu quando lá fui.
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