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Machado de Castro: presépios rocaille em português

Presépios Machado de Castro
Por JoÁ£o GALVÁƑO hÁ¡ 8 anos

Realizados no século XVIII, os presépios de Machado de Castro são roteiro obrigatório de Natal

 

Há dois presépios de Machado de Castro excecionais e públicos em Lisboa, um na Sé e outro na Basílica da Estrela. Na Sé vão-lhe pedir €6,50 para entrar no claustro e vê-lo, na Estrela é gratuito. E o da Estrela é de longe melhor, nem que seja pela dimensão, que enche toda a sala. Até nisto o Menino Jesus traz boas prendas.

A comparar, o da Sé é tamanho mesa e o da Estrela é tamanho monumental. O primeiro só se pode ver frontalmente, como um cenário; o segundo tem alas laterais, e uma simpática senhora que lhe emprestará uma lanterna para que possa ver nos recônditos da rocha (é mais que rococó, é mesmo uma espécie de decoração rocaille, de rocha, de gruta) todas as cenas menos sagradas que não ficam bem na cena sagrada principal frontal do Advento: homens a beber e a jogar, raparigas sorridentes e casadoiras que passam, com trocas suspeitas de olhares e duas aguadeiras à bulha, por exemplo.

Os presépios de Machado de Castro, mais que evocações religiosas do advento, são retratos da vida quotidiana da sua época, a centúria de setecentos, e retratos da vida popular que o rodeava. O da Estrela demorou 5 anos a realizar, pelo próprio Machado de Castro e pela equipa que não seria pequena.

É composto por mais de 500 figuras em cerâmica e pasta de papel, e todo o conjunto envidraçado (a própria vitrine que o acolhe é um mimo decorativo), mede 5 metros de largura por 4 de altura e 3 de profundidade. O plateau é todo relvado a musgo e mistura cenas bíblicas com o tal quotidiano de setecentos que Machado de Castro encontraria nas ruas do país, a caminho das suas oficinas.

Machado de Castro é o mesmo escultor da estátua equestre do Rei Dom José I que com certeza já admirou no hall de entrada da cidade de Lisboa, a Praça do Comércio, e do baldaquino do altar-mor de São Vicente de Fora.

Como a maior parte dos portugueses reconhecidos no seu campo de trabalho foi um caso não tão raro de um primus inter pares à escala mundial, um génio e um visionário dotado de todos os talentos artísticos, manuais  e engenhosos para operar na pequena e na grande escala dos interiores do século XVIII.

Quando chegar à Basílica da Estrela e não encontrar logo este presépio, não desespere; está oculto no lado direito do transepto, atrás do grandioso túmulo da Rainha D. Maria I, e de alguma forma esta é uma justiça poética: a Rainha aqui sepultada foi a mesma que encomendou este presépio no século XVIII ao mestre, e quase que o guarda só para si. Contorne o túmulo pela direita, numa passagem estreitinha e quase dissuasora e chega à sala do presépio, ou melhor, ao presépio-sala.

Eu fui com pressa, mas vou voltar para lá para passar a tarde; 500 figuras, modeladas maioritariamente e individualmente pelo grande mestre do decorativismo português do século XVIII merece isso e muito mais.

 

 

Basílica da Estrela

Praça da Estrela

1200-667 Lisboa