Bach pascal no CCB
Nada diz Páscoa como Bach. Aqui com direito a entrevista ao maestro Enrico Onofri que dirige a Orquestra Metropolitana de Lisboa no CCB, exclusivo Lisbonne-Idée
A Paixão Segundo São João de J. S. Bach é invariavelmente ligada à celebração da Páscoa. É com esta oratória, que junta à orquestra um coro e quatro cantores solistas, que a Orquestra Metropolitana de Lisboa irá apresentar-se domingo, dia 25 de março, às 17h00, no Grande Auditório do CCB, para o tradicional Concerto de Páscoa.
Sob a batuta do maestro italiano Enrico Onofri (cujos pensamentos sobre esta obra lhe trazemos lá mais adiante no texto), a Orquestra Metropolitana de Lisboa e o Coro Sinfónico Lisboa Cantat acompanham os solistas Eduarda Melo (soprano), Carlo Vistoli (contratenor), Marco Alves dos Santos (tenor), e os baixos Christian Luján, José Corvelo e Jorge Vaz de Carvalho. Dirige o coro Jorge Carvalho Alves.
Da esquerda para a direita, Carlo Vistoli (contratenor), Eduarda Melo (soprano) e Marco Alves dos Santos (tenor)
A Paixão Segundo São João de J. S. Bach é uma Oratória de 1724 que junta à orquestra um coro e quatro cantores solistas na interpretação da mais dramática sequência de episódios que se lê na Bíblia. Comparativamente à Paixão Segundo São Mateus – a única outra “Paixão” de Bach que nos chegou, e que foi composta alguns anos mais tarde -, é mais comedida na ostentação de recursos.
Por entre páginas de grande exaltação, firma-se num registo poderosamente meditativo. Sucedem-se corais, árias e recitativos pontuados pela contenção e pela subtileza, denotando uma profunda atenção à essência das palavras.
O sofrimento de Jesus precedente à crucificação é o eixo em torno do qual se desenvolve toda a narrativa, desde a prisão no Monte das Oliveiras até ao momento em que o corpo é descido da cruz. A Negação de Pedro, a crueldade de Pilatos, a coroa de espinhos e o vinagre, são imagens que, independentemente da fé, nos mergulham em pensamento e comoção. Sem tela nem pincel, a música de J. S. Bach mostra sombras e luzes que só a imaginação alcança.
Como prometido, segue agora uma breve mas sentida entrevista que nos concedeu o maestro Enrico Onofri, que dirigirá a Metropolitana neste concerto imperdível; não há como perguntar a um artista sobre a sua arte para que esta nos fique ainda mais próxima, não é?
O Maestro Enrico Onofri, fotografia de Maria Svarbova
O que sente ao dirigir uma peça de Bach?
É uma tarefa muito exigente. A complexidade da harmonia, os sentidos ‘numerológicos’ ocultos, e a estrutura do trabalho de Bach requerem um profundo conhecimento da partitura. Contudo, as peças de Bach são ao mesmo tempo feitas de música profundamente humana, que nos tocam o coração de forma impossível de explicar.
Desta maneira, o grande desafio para o intérprete é encontrar o bom equilíbrio entre a complexidade da partitura e a intensa paixão que esta expressa.
Em música, como em tudo afinal, o que faz um clássico?
É na realidade uma questão demasiado complexa para ser respondida em poucas palavras. De um modo geral, penso que para algumas obras a sua fama dependerá das circunstâncias históricas da altura da sua concepção, independentemente da sua qualidade; para outras, é esta qualidade inquestionável que faz dela um clássico.
No caso da música de Bach, como de outros compositores, podemos aplicar ambos os fatores.
O que diria a um público ‘fora de linha’ para o convencer a assistir a este concerto?
A Paixão de Bach é uma viagem pelo mais recôndito das nossas almas e dos nossos espíritos. Quando nos sentamos numa plateia para ouvir a Paixão de Bach não o fazemos apenas para ouvir um concerto de música clássica: fazemo-lo para intender uma viagem ao nosso íntimo, pela música.
Bilhetes aqui
Foto de abertura por Marcelo Albuquerque
Foto do Maestro Enrico Onofri por Maria Svarbova
Fotos cedidas pela Metropolitana
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