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Pós-Pop, ou de quando Portugal não chegava para os artistas portugueses

Pós Pop Gulbenkian
Por JoÁ£o GALVÁƑO hÁ¡ 7 anos
Categorias :
Cultura

Num país atado ao Estado Novo o que fizeram os artistas da década de 60 para criar? A mais recente exposição da Gulbenkian explica

 

Logo de início o teaser da exposição “Pós-Pop. Fora do lugar-comum” é imperdível, e inspira imediatamente ao que podemos ver na Gulbenkian até 10 de setembro:

 

O teaser da mostra, ao som de "Agora eu vou ser feliz", pelo Duo Ouro Negro em 1964, sobre o original dos Beatles "I wanna hold your hand"

 

Em Portugal, um país ‘pobrete mas alegrete’, regido por um regime fascista e serôdio, em que a maior irreverência permitida era do tipo ter Madalena Iglésias a balançar, num pop contido e fixado com laca, “sei quem ele é, ele é bom rapaz um pouco tímido até”, como fariam os artistas que se queriam livremente exprimir? Fariam o que fazem ainda hoje, saíam da ostra para ganharem asas. Mas de forma pouco ortodoxa, como se esperaria; afinal, Portugal era um caso especial numa Europa que acordava das dormências que se esbatiam durante a década de 1960 e davam lugar a novas florescências. 

Da esquerda para a direita "Sem Título", por António Palolo em 1968, guache sobre papel, oriundo da coleção Manuel de Brito, foto de Carlos Azevedo; "Sem Título (Joelhos)", por Sérgio Pombo em 1973, poliéster policromado, da Coleção Moderna do Museu Calouste Gulbenkian; "Sem Título", por Ruy Leitão, colagem, esferográfica e guache sobre papel, da Coleção Moderna do Museu Calouste Gulbenkian, foto de Paulo Costa. Na foto de abertura, pormenor de "Sem Título", por Teresa Magalhães em 1970 e 2012, tinta acrílica e colagem sobre platex, da Coleção Teresa Magalhães, foto de Carlos Azevedo.

 

Esta exposição apresenta, na sua grande maioria, obras produzidas entre 1965 e 1975, em Portugal e Inglaterra. Em algumas delas, nota-se uma unidade que tem a ver com a divergência bem-humorada em relação ao lugar-comum proposto pela Pop Art. E, no caso dos artistas portugueses, verdadeiros trânsfugas da mediocridade que se vivia em Portugal, encontramos um laço comum que foi o terem procurado inspiração e incentivo no estrangeiro, em Paris, e, sobretudo, em Londres, verdadeira meca dos anos 1960.

 

 

"Delacroix no 25 de Abril em Atenas", por Nikias Skapinakis, em 1975, óleo sobre tela, de coleção particular. Foto de Carlos Azevedo

 

A crítica à Pop Art surge na segunda metade da década de 1960. No caso dos artistas portugueses é simultânea à experimentação em torno desta linguagem, cuja assimilação, por sua vez, surge desviada ou desviante, permitindo alargar e transformar a zona de influência da Pop. A obra realizada por Teresa Magalhães em finais dos anos 1960, praticamente inédita até hoje, exemplifica esta assimilação, enquanto a obra de Ruy Leitão, desenvolvida em Londres e estimulada por um contexto académico muito informado – o artista foi aluno de Patrick Caulfield que o considerava um dos seus mais brilhantes estudantes –, se situa numa zona de afastamento crítico que designámos de «pós-pop». 

Outro laço comum entre todos estes artistas é o pensamento interventivo que desenvolvem sobre o próprio objeto artístico enquanto tal, o que os situa nos primeiros ensaios da arte concetual sem, no entanto, abandonarem a vontade de comunicação que está na origem da Pop.

Da esquerda para a direita, "Sem Título" por Ruy Leitão em 1967, caneta de feltro sobre papel, da Coleção Galeria 111, foto de Carlos Azevedo;  "Verão", por João Cutileiro em 1973, fotografia a p/b sobre papel, da Coleção Phantasma. Foto de Carlos Azevedo; "Aula de Modelo B (Tocando o Sapato, Rosa)", de Allen Jones em 1968, litografia sobre papel, da Coleção British Council.

 

Trata-se da emergência de novas linguagens artísticas, vivida em primeira mão num contexto anglo-saxónico. A influência inglesa em Portugal acentua-se com a saída de muitos artistas para Londres. Os artistas portugueses reagem à situação anacrónica do país, à guerra colonial que começa em 1961 e se arrasta até ao 25 de Abril de 1974, data que lhe põe fim e instaura a democracia em Portugal.

 

 

"Sem Título", sem data, por Ruy Leitão, feltro e guache sobre papel. da Coleção Moderna do Museu Calouste Gulbenkian. Foto de Paulo Costa

 

Apresentam-se algumas obras de artistas ingleses, com um notório desvio da Pop – Bernard Cohen, Tom Phillips, Jeremy Moon, Allen Jones, entre outros –, a par com um maior número de obras de artistas portugueses como Teresa Magalhães, Ruy Leitão, Eduardo Batarda, Menez, Nikias Skapinakis, Fátima Vaz, Clara Menéres, João Cutileiro, José de Guimarães, entre muitos outros.

 

A exposição “Pós-Pop. Fora do lugar-comum”  tem como curadoras Ana Vasconcelos e Patrícia Rosas.

 

Para saber mais clique por favor aqui.

 

 

Imagens retiradas do site da exposição