Miguel A. Rodrigues: “A arte contemporânea é um dos mais refinados produtos do mercado capitalista.â€
Termina já dia 19 a exposição “La Fuite” do jovem escultor Miguel A. Rodrigues, que nos tem agradavelmente surpreendido nos últimos tempos.
Desta vez o artista expõe no belo e renovado Palácio Galveias, em Lisboa, Biblioteca Municipal e excelente exemplo do barroco português.
E toda esta nossa conversa, que aqui lhe trazemos, revolve em torno do barroco, aliás, dos barrocos, que para Miguel há mais que um.
Miguel A. Rodrigues no Palácio das Galveias.
Vendo o seu trabalho é evidente uma espécie de barroco, de ar, vento, arrebatamento? É certo? E como se encaixa um novo barroco na contemporaneidade?
Vejo os nossos dias como um fenómeno hiperbarroco. Um exagero da cultura barroca, da encenação, de uma busca pela imagem perfeita. Estas esculturas que faço refletem isso mesmo, uma procura pela festa, pela aparência, pelo dourado, procurando levá-las ao exagero óbvio.
Porquê as Galveias?
A oportunidade surgiu através de um convite da Junta de Freguesia das Avenidas Novas. É um importante palácio barroco, inicialmente construído para os Távora e que mais tarde foi adquirido pelo Conde de Galveias. Fui convidado a intervir no salão nobre, algo que me pareceu um desafio dada a imponência do espaço.
"La Fuite", por Miguel A. Rodrigues, no salão nobre das Galveias.
Porque se chama a mostra "A Fuga"?
A ideia foi apresentar nesta sala um conjunto de arcos festivos, algo muito comum nas festas barrocas. Criar um cenário de festa que faça o espectador sentir-se "elevado". Criar uma fuga para outra realidade, uma fuga pelos arcos. Uma fuga dentro de uma encenação.
A obra "La Fuite" em diferentes escalas.
Quantas peças estão expostas? Funcionam como um todo?
São três arcos que, alinhados, funcionam como um caminho para ser percorrido.
Que materiais usa nas obras?
As obras são feitas em plástico, um material contemporâneo. Não queria cair na armadilha de tentar refazer, reinventar o passado, mas fazer algo novo, logo tinha que ser um material do nosso século.
A obra "Nous Sommes Poussière", de Miguel A. Rodrigues, na Capela de São João Batista da Igreja de São Roque em Lisboa
O que é Arte para si?
Não sei, mas continuo a tentar descobrir. Recentemente tenho pensado que a arte e principalmente a arte contemporânea é talvez um dos mais refinados, complexos e mascarados produtos do mercado capitalista.
Onde expôs já, e de que exposições se orgulha particularmente?
Tive no mês passado a oportunidade de fazer uma instalação no Palácio das Necessidades, algo com que sonhava há algum tempo.
Instalação por Miguel A. Rodrigues no Palácio das Necessidades.
Porque abandonou Economia e decidiu ser escultor?
Não abandonei propriamente, desloquei-me, transformando-me. Sempre gostei muito de artes e em economia percebi como a arte é algo que foge às regras tradicionais de mercado. Achei que ao ir para escultura era seguir um sonho e juntar o desejo de estudar, participando, a produção, distribuição e consumo da arte.
Vive-se de ser artista em Portugal?
A arte é um mercado muito competitivo, que vive de produzir para uma pequena "elite". Portanto não é fácil todos conseguirem viver exclusivamente da arte.
Tem ídolos nesta sua arte? Quem e porquê?
Tenho vários artistas que admiro. John Chamberlain, por exemplo. Outros, mais antigos, como Rubens. Gosto da ideia que ele tinha já no séc. XVII de uma "fábrica" de arte, sendo honesto com os seus compradores e especificando que partes dos quadros eram da sua autoria e quais dos seus colegas. Ultimamente redescobri Tamara de Lempicka e o seu percurso.
Que planos tem para um futuro mais ou menos imediato?
Acabar um projeto de um conjunto de peças que estou a preparar em volta do reinado de D. João V e procurar novos caminhos para explorar as ideias que tenho vindo a trabalhar.
Miguel A. Rodrigues por Lisboa:
Gosto de Lisboa porque...
... não para de surpreender.
Em Lisboa não passo sem...
... caminhar à beira-rio.
Só trocaria Lisboa por...
... nada, quero aproveitar o máximo e que Lisboa aproveite o máximo de mim.
Em Lisboa não resisto ...
... à luz.
O melhor sítio para jantar em Lisboa é...
… o Macau.
E para continuar noite adentro...
... o Incógnito.
A melhor vista de Lisboa é...
... o topo do parque Eduardo VII.
Gosto de Lisboa, mas...
... preciso de momentos no campo.
Miguel A. Rodrigues à queima-roupa:
Se não fosse escultor seria o q?
Algo relacionado com marketing ou relações públicas.
Quem é que convidaria para um jantar ideal?
Edward Bernays.
O que tem sempre que haver num espaço seu?
Ultimamente tem havido sempre dourado :)
O que o faz rir?
Seinfeld e os Monty Python.
O que é que o aborrece muito?
Tenho um problema a ver séries e filme, estou sempre a puxar à frente.
Sempre que pode, faz o quê?
Vou a exposições.
Para saber mais clique por favor aqui.
Imagens cedidas pelo artista.
Artigos Relacionados
- Populares Recentes