Obras de Jéssica Burrinha em exposição no Radio Palace
“Sopro de Vida” e “Fertilidade” vão estar no Radio Palace até 30 de Maio
Em que se inspirou para fazer a peça fertilidade?
Nas físalis. Este trabalho foi feito como um trabalho de finalistas de escultura, que fizemos para o Palácio do Marquês. A nossa inspiração foram os jardins. O Palácio do Marquês tinha os jardins repletos de frutos, de cheiros… E essa ideia dos frutos e da cor agradou-me. E eu gostei da físalis porque é uma fruta que não se encontra facilmente, quando se encontra nos supermercados já vem só com a bolinha. Como no meu jardim tinha imensas, resolvi inspirar-me na forma.
O meu trabalho tem muito a ver com a disseminação e a vida e a maneira como se larga a semente e esta dá para prosperar e renovar. Tudo o que faço encontra-se relacionado com a renovação, a natureza. E esta obra relaciona-se justamente com isso, com o fruto e a vida: deixar cair o fruto para poder crescer com novas sementes e gerar novos frutos.
Já tinha exposto outras obras?
É um privilégio estar aqui. Já tenho feito exposições em outros sítios em Portugal. No Alentejo, aqui em Lisboa, já expus na Galeria de Arte Periférica no CCB. A faculdade também nos proporciona alguns locais para expor. Mas é a primeira vez aqui neste palácio e é como se trouxéssemos vida para aqui. O palácio estava abandonado e agora está completamente diferente. Demos vida a um sítio que ficou esquecido.
Qual foi a inspiração para a obra “Sopro de Vida”?
Uma mitologia que estava nos tectos do palácio tinha a ver com o Zéfiro, Deus do vento, e a Flora, Deusa da natureza. Eles apaixonaram-se. Ele era um vento forte e quando se apaixonou tornou-se suave. Então inspirei-me por causa das folhas. Eu queria trazer vida para dentro do palácio, por isso é como se trouxesse a vida com o vento e as folhas. São muitas, fiz 1120. São de cerâmica e fi-las uma a uma. Foram muitos meses de trabalho. Eu já estava a fazer aquilo de forma mecânica, tornou-se muito intuitivo. As primeiras custaram mais, mas depois habituei-me e comecei a fazer e a produzir mais. E deu nisto. Até gostava de ter feito mais. Demorei cerca de seis meses a fazer esta obra, embora não tenha sido sempre um trabalho contínuo, pois nós temos aulas.
E quanto tempo demorou a outra peça a ser feita?
A outra peça demorou o mesmo, aliás, acho que demorou mais. Porque foi preciso dobrar os ferros e fazer as esferas em cerâmica. Foi a minha primeira experiência com o ferro, nunca tinha feito nada neste material. Fui eu que fiz tudo. O ferro é dobrado à mão, a frio. Temos uma mesa e foi preciso pôr lá uns grampos e, pronto, dobra-se bem. Mas as pessoas não acreditam [risos]. Eu gosto de fazer o processo todo. É a paixão da escultura, ter a oportunidade de criar com as mãos.
A escultura tem tudo a ver comigo e a natureza. Gosto de trazer vida aos sítios.
"Fertilidade"
Onde cresceu?
A minha família é alentejana, eu vivo na margem sul de Lisboa. Mas fui sempre criada nos campos. O meu pai também tinha um terreno, por isso sempre fui criada com a natureza. Não gosto tanto da cidade, preferia viver no Alentejo. Sabe tão bem voltar lá.
E planos para o futuro?
Agora estou em Mestrado de Escultura e por enquanto quero continuar a estudar, a criar e a ter exposições. Isso é o mais importante, começarem a conhecer o meu trabalho. E queria tentar vender, também.
Agradeço a oportunidade que me deram, de ter vindo para aqui partilhar um espaço com artistas nacionais e internacionais. É óptimo.
Qual é a sua opinião sobre o meio artístico em Portugal?
Eu trabalho imenso e às vezes até tenho pena de não trabalhar mais, porque há sempre coisas para fazer ou para organizar. E acho que é isso, fruto do nosso trabalho. E eu vejo que há muitas pessoas que desistem. Saem do curso e vão para outros cursos ou começam a trabalhar em lojas. Uma pessoa tem de gostar e ter apoio. Eu tenho muita sorte em ter apoio da minha família. Os meus pais ajudam-me e financiam as coisas, porque isto é um ramo muito difícil.
No início não se ganha nada, é tudo dar, e para receber demora muito tempo. Se a pessoa não lutar pelo que gosta, acho que vai ser muito infeliz. Eu tenho lutado imenso. Todos os meus colegas torcem por mim e dizem-me que eu mereço e que é fruto do meu trabalho, mas também tenho pena, porque tenho colegas que têm capacidade e depois não têm o apoio ou a sorte de as coisas correrem bem.
"Sopro de vida"
Quem é a Jéssica Burrinha?
Jéssica Burrinha nasceu no Barreiro em 1993 e cedo revelou grande aptidão para as Artes. Atualmente é estudante de Escultura na Faculdade de Belas Artes em Lisboa e já conta no seu currículo com diversas exposições coletivas.
Desde criança que sempre gostou de artes plásticas, trabalhos manuais, pintura e desenho, o que naturalmente a guiou para a Arte. É uma pessoa muito simpática, extrovertida, social e está sempre pronta para iniciar novos projetos.
Apesar de escolher a área de Escultura como foco principal para a sua carreira, o desenho, a fotografia e até a própria costura, continuam presentes no seu dia-a-dia. A sua inspiração nasce principalmente na Natureza e nos pequenos pormenores da vida, que normalmente passam despercebidos na sociedade.
Tenta sempre estar atenta a tudo o que a rodeia, porque até na mais pequena pedra ou ramo há sempre um motivo de inspiração. Isso reflecte-se claramente nos seus trabalhos.
Em 2013 a entrada na Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa, no curso de Escultura; Em 2015, exposição coletiva - "Mostra de Artistas de Belas-Artes de Lisboa", na Faculdade de Direito da UL; Em 2016, exposição coletiva - " Empírico", Oficinas de Formação e Animação Cultural, Aljustrel", Prémio: Menção Honrosa: Concurso Mertolarte, exposição nas Galerias Abertas das Belas-Artes, 10ª Edição, FBAUL, "25 anos", Galeria Arte Periférica, Lisboa, Centro Cultural de Belém, exposição coletiva de Escultura em Monsanto, Idanha-a-Nova e "Pensar Fazer" na Galeria Municipal Comendador João Martins, em Proença-a-Nova, participação na X Bienal Salão das Artes, na Vidigueira e na Comemoração dos 180 Anos da Academia Nacional de Belas Artes, em Lisboa; Em 2017, exposição coletiva -“Desencontrados” Oficinas de Formação e Animação Cultural, Aljustrel; exposição finalistas de Escultura 15/16 “Do Convento ao Palácio” Palácio do Marquês de Pombal, Oeiras; Exposição coletiva“Resgate Sauvetage” Rádio Palace, Open Art House, Lisboa.
As obras de Jéssica Burrinho, “Sopro de Vida” e “Fertilidade” vão estar em exposição no Radio Palace até dia 30 de Maio.
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