Obra de Miguel A. Rodrigues em exposição no Radio Palace
“Reveil” vai estar no Radio Palace até 30 de Maio
Que nos pode dizer sobre a sua obra?
Os meus trabalhos têm sido todos, nos últimos anos, à volta do barroco. Tento interpretar o barroco de forma contemporânea. E tenho feito muitas esculturas que interagem e são inspiradas em sítios barrocos, como por exemplo a que fiz para o Palácio de Mafra ou outra que fiz para a Capela de São João Baptista… Inspiro-me no que acontecia no barroco português nas igrejas, onde se utilizava a talha (a madeira) coberta de ouro, porque não tínhamos dinheiro para ter mármores como os italianos. Por isso adoptámos técnicas mais baratas para fazer as igrejas. Os meus trabalhos são em plástico, tentando fazer essa analogia, uso um material que não é assim tão caro mas que parece luxuoso. Parece metal, são hiperbarrocos.
Estas esculturas são feitas em PETg (Polietileno Tereftalato). Têm o mesmo princípio das que expus na Faculdade de Belas Artes, mas foram adaptadas a esta sala. É uma sala que nos remete para um jardim, por causa dos desenhos no tecto, com as flores, os cachos de frutos e os meninos a brincar. Por isso a ideia foi criar um cenário teatral, como no barroco, de um jardim falso de plástico. O objetivo é que estas obras resultem em espaços históricos mas que, ao mesmo tempo, possam ser vistas de uma forma contemporânea. Que resultem fora daqui.
Reveil
Fale-nos do seu percurso. Já fez outras exposições?
Já. Antes de ir para a Faculdade de Belas Artes, estudei Economia em Coimbra. Depois mudei para Escultura, porque era o que realmente queria fazer. Quando entrei na Faculdade de Belas Artes comecei logo a tentar fazer exposições. Comecei por fazer uma exposição em conjunto com a Ana Figueiredo, em Braga, que começou por ser uma grande epopeia. Foi no Palácio dos Biscainhos, um palácio barroco, e tudo começou por causa disso. Tentámos logo desde início que as exposições não ficassem fechadas, não fossem estáticas. Então levámo-las para a rua. Foi uma exposição que se estendeu a uma série de lojas em Braga e ao aeroporto do Porto. Foi a partir dessa experiência que nasceu um projecto a que chamei de Sapiens Atelier, onde procuro explorar essa relação entre a historia, o património e as hiper-realidades contemporâneas.
Depois disso, já fiz uma série de esculturas em Lisboa relacionadas com espaços históricos comerciais. Como na Tous da Almeida Garret. Tentei levar a arte para sítios inesperados, tirá-la das galerias. Por isso é que este projeto, do Radio Palace, é tão interessante. É descontraído, sendo sério simultaneamente. Também já expus no Palacete da Nova, na Embaixada de França…
A minha ideia é sempre dar valor ao objeto. Isso vem da minha formação em Economia, querer perceber como a obra ganha valor. Hoje em dia com as tecnologias isso é exponenciado. A minha ideia não foi apenas fazer exposições nesses sítios, mas ir, fotografar e fazer vídeos das obras lá. E a partir daí cria-se buzz à volta das obras de arte. Ao fazer estas exposições em sítios históricos com valor, transporto esse valor para a peça. A ideia é a peça dar valor ao espaço e o espaço dar valor à peça.
Obra exposta por Miguel Rodrigues na Biblioteca Joanina, em Coimbra
Qual é o propósito da arte nos dias que correm?
A arte associada a uma ideia de beleza é muito importante para se viver melhor, mais alegre, mais bem-disposto. Temos o exemplo do Radio Palace, estas decorações que existiam tornam este espaço mais amigo, mais aprazível. Mas a arte contemporânea tem-se focado mais em chocar, questionar-se a si própria e quais os seus limites. Para mim esse modelo está já um quanto esgotado. A minha ideia é quebrar com essa ideia constante do choque pela estranheza, mas começar a chocar pela beleza. O que eu tento é chocar de uma forma teatral com o belo. As pessoas deixaram de estar habituadas a ver beleza quando vão ver arte.
Quem é Miguel Rodrigues?
Miguel A. Rodrigues frequenta o último ano da licenciatura em Escultura da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. É natural de Coimbra onde estudou Economia na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.
Entende a arte como uma apologia do belo buscando-a através da hiper-realidade do quotidiano. Inspira-se na história, na moda, na propaganda e teatralidade. Elegeu, nos últimos anos, o barroco e a sua história como objeto de reflexão.
Saiba mais sobre as obras de Miguel A. Rodrigues em Sapiens Atelier.
A obra de Miguel A. Rodrigues, “Reveil” vai estar em exposição no Radio Palace até dia 30 de Maio.
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