Entrevista: A Rua do Mundo de Filipa Teles
Falámos com Filipa para descobrir um pouco mais desta rua que, na realidade, é uma janela para o mundo Português.
Quando Filipa Teles criou a Rua do Mundo sabia que o nome da sua marca correspondia ao antigo nome de uma das ruas mais visitadas de Lisboa, a Rua da Misericórdia. E achou-o ideal para o seu projecto, com base na fotografia urbana.
Como nasceu a Rua do Mundo?
Sou formada em Artes Decorativas Portuguesas, aluna do Professor José Meco, especialista e apaixonado em Azulejaria, é a ele que devo esta fixação pelos azulejos. Em 2010 eu, a minha irmã e prima juntámos forças e criámos a PortArt, uma marca com artigos de uso corrente com símbolos portugueses, ilustrações originais e peças de joalharia portuguesa reinventada. Depois, a minha irmã e prima abraçaram projectos de autor maravilhosos e eu dei continuidade à produção e distribuição dos artigos que tínhamos. A marca teve uma evolução gradual e natural. A partir do momento em que fiquei como única responsável pelo projecto, naturalmente os artigos foram mudando e surgiu necessidade de mudar de nome.
A Rua do Mundo nasceu com as Fotografias Rua do Mundo, em 2012. Estas começaram a ser vendidas experimentalmente em mercados, juntamente com Serigrafias, crachás e Cadernos feitos manualmente na oficina Carapau Amarelo e os magnéticos Colecção Azulejo que transitaram da anterior marca. Assim ficou a Rua do Mundo, com o antigo nome da Rua da Misericórdia, onde hoje passeia um mundo de gente em Lisboa.
Filipa Teles
Quantos Portugais cabem na Rua do Mundo?
Cabem todos! Aliás, a primeira colecção das Fotografias Rua do Mundo nasce com a impressão de fotografias das férias, aquelas fotografias poéticas, que não cabem todas no álbum, que me deixam ficar para trás na ida para a praia ou me fazem traçar um caminho diferente até ao mercado ou café, mas que sinto serem tão importantes como as outras e me reportam exactamente ao prazer que aquele momento proporcionou. Um dia decidi seleccionar algumas, imprimi-las e levá-las comigo ao mercado. Tiveram muito boa receptividade. Apresentei assim o novo produto junto das lojas que representam a marca, que também gostaram e adquiriram.
Assim, na Rua do Mundo encontram fragmentos e instantes de Portugal, das ilhas e do Continente. Também os Magnéticos Colecção Azulejo, têm padrões que achei bonitos e originais de Norte a Sul de Portugal, ilhas incluídas. Se a Colecção de Fotografias começou com fotografias tiradas durante as férias, hoje, faço questão de marcar dias só para fotografar. Gosto de ir de comboio, sozinha, e vou ao meu ritmo sem deixar ninguém à espera porque me encantei pela cantaria ou pelos azulejos do caminho.
Sempre que viajo fico atenta a pormenores portugueses, na verdade fico atenta a vivências que marcaram a arquitectura de um sítio e como os portugueses passaram por muitos acabo por encontrar vestígios bonitos que ilustram a sua passagem. Arquitectura, azulejos, cantarias, tapetes de flores, estuques, letreiros. Fotografo e registo, tomo notas de algumas histórias que os locais contam e dos nomes desses locais.
É interessante que refiras a inspiração no património arquitectónico e cultural de Portugal, queres dar-nos exemplos de algumas peças e sua inspiração?
Os magnéticos Coleção Azulejo são os mais evidentes dessa inspiração. Estou sempre à procura de padrões originais e variantes de padrões. É muito interessante, pois já encontrei os mesmos padrões em lugares bem distintos, estou a lembrar-me de uns na vila de Lagoa, em São Miguel nos Açores, iguais aos que vi no Porto e isto porque quem criou a fábrica de cerâmica da Lagoa foi uma família de Gaia, que levou azulejos para lá e assim se deu essa bonita coincidência estética. Também no Brasil e em Moçambique encontrei padrões idênticos, usados de forma diferente. Acho bem bonitos estes encontros.
Qual é a tua peça bestseller?
Os artigos mais vendidos são as Fotografias Rua do Mundo e os Magnéticos Colecção Azulejo.
As primeiras, regra geral as pessoas gostam e levam, e gostam de comprar duas ou três para fazer uma composição numa parede de casa. É muito gratificante sentir a emoção das pessoas que compram as minhas fotografias, de certo modo somos parecidas, pois gostaram daquele pormenor fotografado, tal como eu gostei e compram-no, para sua casa. É uma boa sensação.
Os magnéticos Colecção Azulejo têm explicações simples, são bonitos, têm vários padrões para escolher, são uma compra económica e de impulso até. Gosto de os ver como um incentivo a imprimir os melhores momentos e a fixá-los para os lembrarmos constantemente. As Serigrafias do Eléctrico, da Pasteleira, do Cacilheiro e da Famel também são muito apreciados e vendidos. Depois os crachás andorinha impressos em tecido e os stickers Andorinha e Cerejas o Ano Inteiro.
A Rua do Mundo nasceu antes do boom turístico que Portugal, e as suas cidades, têm tido nos últimos anos. Notas que há maior interesse dos turistas nas peças?
Sim, sem dúvida. Dos turistas e dos estrangeiros residentes em Portugal. É muito interessante a variedade de nacionalidades que cruzam connosco, artistas locais, em mercados de rua, onde consigo ter contacto directo com o público. Austrália, Brasil, Japão, Dinamarca, Suiça, Áustria, Rússia, Alemanha, Canadá, México, Perú, foram alguns dos destinos das minhas peças, fico muito contente.
Depois temos brasileiros, franceses e espanhóis, residentes cá, que têm muito gosto em decorar os seus apartamentos portugueses.
Claro está, que com este boom, surgiram Serviços de Visitas Guiadas, Hostels e Alojamentos Locais que procuram a Rua do Mundo pelas fotografias para decorar os seus espaços ou que pretendem oferecer pequenos souvenirs, alguns até exclusivos, aos seus clientes, em termos de vendas tem sido positivo e em termos de divulgação de mensagem é óptimo, pois em todos os artigos que contenham imagens de azulejos vai mencionada a importância da sua preservação, desaconselhando a compra de azulejos originais usados.
Onde podemos encontrar as peças da Rua do Mundo?
A Rua do Mundo está representada em algumas lojas físicas, lojas com uma cuidada selecção e que respeitam os nossos tempos de produção uma vez que os artigos Rua do Mundo são de pequena produção. Em Lisboa encontram-nos n'A Vida Portuguesa, na loja do Museu Berardo, no Museu do Azulejo e na Loja Quer, no Príncipe Real. Costumo fazer o Mercado do Príncipe Real, na 2ª Sexta e Sábado do mês. A partir de Junho a Rua do Mundo vai ter um espaço partilhado com mais 4 marcar de artistas locais, na Lx Factory, aberto de terça a sábado das 12h às 19h.
No Porto, em Serralves. Na loja online, www.ruadomundo.com, têm a possibilidade de consultar todas as lojas e também podem comprar os nossos artigos.
A Rua do Mundo vive em diversos suportes e sustenta-se também em parcerias artísticas, queres falar-nos delas?
As parcerias surgem, naturalmente, porque gosto do trabalho e das pessoas , é muito bom esta simbiose de energia. Posso referir especificamente a Maria Boavida, do Carapau Amarelo, uma oficina maravilhosa de Serigrafia, onde todos os trabalhos com esta técnica em papel são lá impressos (serigrafias e cadernos) , e a Isabel Colher, da Tardoz, oficina de restauro de cerâmica, onde gostava de passar muito mais tempo, a aprender e absorver todos os termos técnicos e passos na criação de tão bonitos azulejos (juntas criámos o pack caderno+azulejo).
O mais precioso no trabalho manual, é saber que se não for aquela pessoa a fazer, em muitos casos, não será feito por mais ninguém. Ser manual acresce valor, torna o trabalho singular e valioso. É uma noção bonita mas que ao mesmo tempo assusta, pois de facto há ofícios a desaparecer.
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