Casa Achilles: ferragens d’arte
Pode uma fechadura ser o bem mais precioso de uma decoração? Pode, a Casa Achilles prova-o, desde 1905.
Fundir e moldar metais é uma das mais antigas artes decorativas, e não tem um só modo de o fazer. As primeiras razões para a sua existência devem ter estado bem longe do desejo estético – espadas, chuços, armas em geral - , e a forja foi certamente a maneira de obter, batendo o metal que aquela antes punha em brasa.
Uma bancada da oficina da Casa Achilles, onde se podem ver alguns exemplares obtidos pela fundição em molde de areia. Na foto de abertura, a sala de entrada com alguns escaparates.
A Casa Achilles especializou-se não na forja mas na fundição, uma maneira mais fina de obter uma forma mais delicada e trabalhada de aspeto. E não num tipo de fundição qualquer, mas sim na fundição em moldes de areia.
Exemplares de fechadura, pé de mesinha e candelabro de parede.
Das oficinas da Casa Achilles, adjacentes à bela loja, saem não só fechaduras e respetivos espelhos e dobradiças, mas também apliques e candelabros de parede, e componentes de mobiliário de estilo, entre outras curiosidades à sua espera.
Interior da oficina centenária da Casa Achilles.
É a terceira e última loja desta especialidade – e a que resta ainda – de três fundadas pelo mesmo dono no virar do século, todas mais ou menos entre o Bairro Alto e o Príncipe Real, como esta que resta, na Rua de São Marçal. Achilles Santos Frias era maçon e culto, apaixonado pelo teatro e pelas restantes artes, um amante do belo, afinal.
Para que as ferragens saídas da sua loja estivessem à altura das mais belas casas e palacetes da Lisboa de novecentos, o molde de fundição em areia era ideal para os pormenores requintados que fazem ainda hoje a fama maior da Casa Achilles. Depois de fundidas e arrefecidas, as ferragens eram cinzeladas manualmente, para que cada cara de anjo ou nervura de folhagem ficassem perfeitas.
Algumas das peças são acabadas a ouro, para que o efeito final cumpra o seu desígnio, e cada porta ou móvel seja realmente especial e único.
A fundição via molde de areia trazia, e traz ainda, outra grande mais valia para a Casa Achilles, conseguir replicar exatamente qualquer antiguidade do género que um cliente requeira e que não encontre no mercado. Por tal, são muitos os antiquários e restauradores de móveis, em Portugal e no estrangeiro, que encontram aqui o que não mais se faz em lado algum.
Exemplo dos mostruários que pode encontrar na Casa Achilles, belos como pinturas clássicas numa sala de visitas.
É tão grande o encanto que a Casa Achilles transmite que o atual proprietário foi ele mesmo anteriormente um cliente que se deixou fascinar pelo vasto acervo (com mais de 500 anos de existências), acabando por fazer deste negócio a sua vida.
A oficina da Casa Achilles, um cenário inalterado da vida industrial como era há um século atrás.
A Casa Achilles tem o aspeto de sala de uma visitas, finamente decorada, onde os expositores das ferragens parecem quadros. O mobiliário, histórico e escolhido a preceito, funciona às mil maravilhas com os lustres e apliques que parecem ter acabado de chegar de Versailles, ou do Schönbrunn. Numa pequena porta lateral, a paisagem muda diametralmente, mas continua fascinante: são as oficinas, com mais de 100 anos de trabalho, a lembrar uma coisa que parece saída do Senhor do Anéis, ou o atelier de Fausto, numa luz de cenário de boa ópera, a cores de indústria e apresentando ainda os fornos de chão originais.
O escritório da oficina, com secretária de época, e o gaveteiro de componentes.
Mais info aqui.
Fotos do site da Casa Achilles.
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