Mónica Santos: uma poltrona estereofónica
Mónica Santos conquistou um prémio de design com uma poltrona que nos encanta e também nos canta.
Somos uma nação pequena em número mas enorme em talento. O design, porque nasce sempre de ‘necessidades socialmente sentidas’, tem entre os portugueses muitos nomes de sucesso internacional: deve ter a ver com o facto de termos crescido na ponta da Europa e de que daqui não se ia para lado algum: cedo os portugueses tiveram que puxar pelo engenho.
Uma das coisas boas de escrever há muitos anos sobre um mesmo assunto, neste caso Casa e Design, é poder acompanhar o nascimento e o crescimento de ‘estrelas’. ‘Estrelas’ no melhor dos sentidos, nomes que que mérito crescem, aparecem e extravasam as fronteiras.
Mónica Santos fotografada por Paula Preto, e na foto de abertura a poltrona Moon, vencedora da 10ª edição do Prémio Nacional de Indústrias Criativas
Mónica Santos é um destes casos: começou a aparecer na imprensa estrangeira logo na sua estreia em lides internacionais, ao integrar o grupo Talents na feira Ambient em Frankfurt, em 2016. Tanto a Wallpaper como a Vogue Brasil viram no seu serviço de mesa Serendipity, em porcelana, uma das peças a destacar nas tendências desse ano.
Peça do serviço Serendipity, com que Mónica conquistou a Feira de Frankfurt.
O Serendipity, num degradê delicado de uma cor para outra, era o espelho da cor Pantone desse ano, também com o mesmo nome, e também ela uma estreia Pantone ao apresentar não uma mas duas cores do ano, rosa e azul, que se entrelaçavam, uma marca na queda das fronteiras de género que começava a ganhar peso na sociedade.
Pormenor da cadeira Becames Me, desenhada para a Munna
De lá para cá Mónica não parou e este ano conquistou o 1º galardão no 10º Prémio Nacional de Indústrias Criativas, uma parceria da Super Bock e da Fundação Serralves. A peça a merecer este destaque foi a poltrona e repousa-pés Moon, de que é coautora, desenhada para a Horizon47.
A Moon é uma poltrona com um avançado sistema de som incorporado e oculto (faz lembrar na intenção a poltrona usada por George Michael no vídeo Fast Love, mas só na intenção, a poltrona da Mónica não parece uma coluna gigante de aspeto).
A poltrona Moon tira partido da estrutura da peça para atuar ela própria como uma coluna sonora, em três áreas específicas para reprodução de som, tornando a poltrona uma experiência sonora incomparável.
Exemplo da produção própria de Mónica, o vaso Inflorescence
Sempre que Mónica Santos se destaca no panorama do design nacional falo com ela para saber porquê. Como fiz agora:
Onde, quando e em que te formaste?
Na ESAD em Matosinhos, em 2000. Formei-me em Design de Equipamento.
Para que marcas trabalhas?
As mais recentes: a Quixote, dos Estados Unidos da América, a Névoa, a Horizon47 e a Sentta, estas três em Portugal.
Serviço Paisley, porcelana, desenhado para a Zara Home.
Tens produção própria?
Sim, mas apenas em pequena escala. Ao longo do ano desenvolvo alguns projetos com um carácter mais experimental e conceptual. Por vezes alguns seguem para produção em pequena escala e são colocados no mercado. Foi assim o caso da coleção em porcelana Serenditipy.
Que prémio é este que acabas de ganhar?
Bom, na verdade não fui eu que o ganhei, mas sim a marca Horizon47, para quem desenhei (em coautoria) a Poltrona e o Banco de Apoio Moon. O prémio propriamente dito foi o 10º Prémio Nacional Indústrias Criativas, uma parceria da Super Bock e de Serralves.
Biombo Hide and Seek, desenhado para a Munna.
Portugal estar na moda ajuda de alguma forma à maior visibilidade também dos designers nacionais?
Sim, sem dúvida. O turismo traz-nos vários estrangeiros com o desejo de melhor conhecer o nosso país e de decifrar o nosso potencial. Desses, os ligados ao desenvolvimento de produto, tanto para marcas como para projetos de restauração/hotelaria, ambicionam melhor conhecer as nossas matérias, técnicas, indústrias, que são afinal as nossas mais valias e diferenciação.
Por consequência, vários acabam também por ter interesse nos nossos criativos e aqui depositar os seus projetos e parcerias.
Eu sou sem dúvida uma dessas afortunadas, e hoje em dia colaboro tanto com empresas portuguesas como francesas ou americanas.
Imagens cedidas pela própria.
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