Parede: vá pelos seus ossos, fique pelo resto
Iodo, ossos e turismo de saúde, a Parede é tudo isto e muito mais
Não é a mais cool praia da Linha, mas todos os cool depois de velhos, por muito hipster que tenham sido na sua juventude, vão querer vir para aqui todas as manhãs, para poderem continuar a dançar numa discoteca depois dos 85 anos de idade. A praia da Parede é um daqueles pequenos milagres com que a Mãe Terra nos presenteia, a nós e aos nossos ossos. E não pense que é apenas uma praia para velhinhos; é ao mesmo tempo um dos melhores spots da Linha para paddleboarding e snorkeling.
Mas snorkeling só, não pense ir já todo contente de rede e cana tentar apanhar o almoço. Desde 1998 que a pequena Praia das Avencas, contígua à Praia da Parede, é a Zona de Interesse Biofísico das Avencas (ZIBA), criada especialmente para proteger a riqueza em espécies deste habitat frágil, sujeito aos ciclos das marés, à força das ondas e à incúria das pessoas. Por isso pode contar com bela paisagem submarina, enquanto faz bolhinhas.
A logo vizinha Praia da Parede é reconhecida desde há séculos como mágica para a saúde dos ossos, tanto que um dos melhores hospitais ortopédicos da Europa se espraia sobre a sua escarpa: o Hospital de Sant’Ana faz tão bem aos ossos quanto aos olhos, com a bela traça fim-de-século e decoração neorromânica das penas que o melhor da arquitetura e da arte portuguesa dispunham à época. Por tudo isto o edifício é Monumento de Interesse Público desde 2011, e para já, salvaguardado da fúria dos promotores imobiliários.
É o iodo o elemento abundante na área que torna a praia da Parede especialmente saudável; o iodo e a particular exposição solar. Pelo menos desde o século XIX que se prescreviam idas medicinais à Parede para quem sofria de maleitas do esqueleto, tornando-a um caso mundial e raro de “praia de saúde”, como foi já descrita num Plano de Ordenamento da Orla Costeira.
A Parede não são só ossos e iodo, mas são estes fatores, os ossos e o iodo, os responsáveis pela encantadora tipologia retro que ainda se encontra na vila, e com alguma frequência disponível para compra. Porque é local desde sempre de veraneio e de uma espécie de proto-turismo de saúde, a Parede tem casas desenhadas expressamente para férias: abundam os pequenos chalets solarengos e as villas de cariz romântico, disputadíssimas por compradores tanto nacionais como estrangeiros. Mesmo alguma da construção em altura, mais recente, teve este fator em conta: são muitas as varandas com dimensões mais próximas das de um alpendre, e mesmo no centro é fácil encontrar pequenos, mas bem desenhados, jardins privados.
A Parede é realmente uma terra de havaianas todo o ano, mas se por acaso as calçar enquanto usa uma Birkin, ninguém estranhará.
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